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"Uma grande cidade é aquela que nos faz sentir grandes" – como a digitalização pode mudar a nossa perceção das pequenas cidades

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19 June 2020
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O projeto URBACT IoTXchange, lançado em outubro na pequena cidade portuguesa do Fundão - mais conhecida até agora pelas suas cerejeiras -, e que agrupa outras pequenas cidades sob o tema "Internet das Coisas para o Desenvolvimento Urbano", fez-nos pensar a todos no que é realmente necessário para ser uma "grande" cidade.

Qual é a sua visão de uma cidade futurista? Se fizermos esta pergunta a alguém, é muito provável que nos responda com a visão noturna de uma megalópole atravessada por automóveis voadores e onde tudo é robotizado, bem ao estilo de Blade Runner. E poderá ter razão - exceto talvez na parte da megalópole. Que o futuro significa tecnologia, já estamos todos convencidos. Mas terá esta de ser grande em termos de tamanho? Não estará a tecnologia a ficar cada vez mais pequena? Sim, haverá certamente grandes cidades no futuro, mas no final tudo se resume ao modo como se define "grande". A este propósito, G.K. Chesterton, escritor vitoriano, fez a seguinte afirmação em relação aos “homens”, que substituímos por “cidades”, por se adequar na perfeição: "há grandes cidades que nos fazem sentir pequenos, mas as verdadeiras grandes cidades são as que nos fazem sentir grandes".

A Internet das Coisas (abreviadamente designada por IoT [Internet of Things]) é apenas a tecnologia que pode contribuir para que uma cidade se torne grande, no sentido de ajudar os seus cidadãos, as suas empresas e instituições, a sentirem-se grandes. Constitui uma excelente oportunidade para as pequenas cidades jogarem numa "liga maior", tal como o Fundão tem vindo a fazer em Portugal, competindo (e sendo bem-sucedido) com cidades de maiores dimensões, pela atração para o seu território de grandes empresas tecnológicas (tal como a Altran e a Altice) e de trabalhadores qualificados. Nesta nova Rede de Planeamento de Ação, o Fundão estabelece parcerias com outras seis pequenas cidades (Ånge na Suécia, Dodoni na Grécia, Jelgava na Letónia, Kežmarok na Eslováquia, Nevers em França e Razlog na Bulgária), uma universidade finlandesa (a Åbo Akademy, em Vaasa) e uma agência de desenvolvimento regional alemã na Saxónia, a fim de partilhar conhecimentos e experiências que ajudem cada cidade a preparar um novo plano de ação para o desenvolvimento da IoT no seu espaço urbano.

Na reunião de kick-off do Fundão, que se estendeu por 3 dias, entre 14 e 16 de outubro, os representantes das cidades iniciaram a identificação dos seus interesses, áreas de aprendizagem e boas práticas, a serem partilhadas através de duas dimensões principais que podem influenciar a competitividade e o crescimento urbano: o desenvolvimento de um ecossistema competitivo de IoT que permita capturar, transmitir, armazenar, analisar e utilizar os dados urbanos gerados; e o desenvolvimento de aplicações concretas com base nesses dados, que possam melhorar a vida urbana nessas cidades. O ecossistema competitivo de IoT deverá incluir uma infra-estrutura tecnológica sólida (sensores, atuadores, redes 5G, oceanos de dados,...), mas também espaços de trabalho adequados (como incubadoras de novas empresas, fablabs para ensaios), atividades de promoção (eventos, hackathons), desenvolvimento de competências e um sistema de financiamento destinado às melhores ideias. As aplicações podem abranger serviços públicos/urbanos (e.g. gestão de resíduos ou da água), saúde e qualidade de vida (e.g. monitorização da qualidade do ar), turismo (informação aos visitantes), educação, energia ou mobilidade (e.g. gestão do tráfego), sendo que cada uma das cidades parceiras do projeto tem experiência numa destas áreas e pode inspirar outras - e também muito aprender! O Fundão, por exemplo, é pioneiro na Europa no desenvolvimento de competências informáticas para estudantes do ensino primário, enquanto Dodoni usa aplicações avançadas para a monitorização de sítios arqueológicos de interesse turístico e a Åbo Akademy desenvolveu uma plataforma tecnológica de IoT de última geração para a cidade de Vaasa.

O projeto URBACT permitirá combinar os conhecimentos e experiências das diferentes cidades, maximizando simultaneamente as sinergias que existem entre elas, nomeadamente em setores económicos específicos. Todas as cidades parceiras partilham ainda percursos de desenvolvimento económico semelhantes, assentes em fortes raízes agrícolas, o que faz da agrotecnologia um setor relevante para o projeto, tendo em conta experiências como as de Jelgava, onde a monitorização agrícola inteligente através de soluções de IoT é já uma prática comum. Por fim, com base no modelo URBACT agora estabelecido, cada cidade irá partilhar as suas aprendizagens no projeto com as partes interessadas locais e implementar um processo de coprodução participativa, que as conduzirá a um novo modelo de desenvolvimento e crescimento. O encontro no Fundão foi uma excelente oportunidade para testemunhar o início desta jornada.

É muito provável que, a menos que viva no mesmo país, nunca tenha ouvido falar do Fundão, de Razlog ou de Ånge, só para citar alguns dos parceiros do IoTXchange. Mas se se interessa por IoT, ou se está simplesmente à procura dos melhores exemplos de qualidade de vida que a tecnologia pode melhorar, muito provavelmente ouvirá falar destes locais mais cedo ou mais tarde. Por isso não perca tempo - pesquise na internet por "IoTXchange" e descubra o que estas cidades estão e virão a fazer, para melhorar a vida urbana com base na utilização da Internet das Coisas!

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Texto da autoria de Eurico Neves, apresentado a 28 de janeiro de 2020.