Seis passos que a administração local deverá seguir na elaboração de um Plano de Ação Integrado
Edited on
20 September 2016O desenvolvimento urbano integrado e o planeamento de ações participativas estão no cerne do programa URBACT.
As administrações locais envolvidas nas redes temáticas URBACT devem criar um Grupo URBACT Local (ULG), constituído por vários agentes locais internos e externos à autarquia, com vista a coproduzir um plano de ação integrado para fazer face aos desafios e problemas que enfrentam.

A Universidade de Verão URBACT, que decorreu em Roterdão de 24 a 26 de agosto de 2016, reuniu mais de 380 representantes de 170 cidades europeias que fazem parte de redes URBACT.
O evento incidiu na formação sobre o desenvolvimento de políticas urbanas de acordo com o ciclo de planeamento de ações a seguir apresentado:
Este ciclo de planeamento de ações aplica-se a qualquer administração local (quer faça parte ou não do URBACT) que deseje desenvolver um plano de ação integrado, ou mesmo um plano diretor, numa área específica e de forma participativa e integrada (ou seja, tomando em consideração as dimensões económica, social, ambiental e física dos desafios locais).
O principal pré-requisito deste processo é a criação de um Grupo Local, ou seja, um grupo constituído por agentes locais (cidadãos, ONG, universidades, setor privado, funcionários autárquicos) preocupados com os problemas locais ou com a temática do plano de ação.
Se trabalha numa/para uma câmara municipal e é coordenador ou membro de um Grupo Local, poderá ter interesse em seguir, para a definição das suas políticas locais, as seguintes medidas ou instrumentos preconizados pelo programa URBACT:
Primeiro passo:
Identificar os problemas da sua cidade para melhor definir o objetivo do seu plano de ação
Deve realizar uma análise de problemas para garantir que o Grupo Local está a abordar o problema relevante, ou seja, o problema discutido e identificado juntamente com todos os agentes intervenientes. Embora possa parecer simples, fácil e rápido de executar, este processo pode, na realidade, demorar algum tempo e levantar desafios, na medida em que os problemas e as respetivas causas nem sempre são percecionados da mesma forma por toda a gente. A paciência e o diálogo intensivo são elementos fundamentais neste processo.
Existe um método com provas dadas para definir e compreender os problemas, bem como as suas causas e efeitos: a Árvore de problemas.
Como utilizá-la:
- Enumere todos os problemas que lhe vêm à mente relacionados com a temática principal (por ex., desemprego jovem). Os problemas deverão ser devidamente identificados: deverão ser problemas existentes e não possíveis problemas, problemas teóricos ou futuros. O problema corresponde a uma situação negativa existente, não à ausência de uma solução.
- Identifique um «Problema central» (que será inscrito no tronco da árvore). Esta tarefa pode envolver um processo de tentativa e erro antes de culminar numa fase de decisão final.
- Determine que problemas correspondem a «Causas» (inscreva-os ao nível das raízes da árvore) e que problemas correspondem a «Efeitos» (os ramos da árvore).
- Estruture uma ordem hierárquica para as causas e os efeitos, ou seja, de que forma as causas se relacionam entre si - que por sua vez dão origem a outras causas e efeitos, etc.
A identificação das causas dos problemas ajudará a pensar em ações que melhor permitam fazer face ou eliminar as causas dos problemas.
Segundo passo:
Fazer um mapeamento dos agentes locais e certificar-se de que todas as pessoas visadas pelos problemas estão incluídas
É importante analisar e mapear a importância e influência dos agentes envolvidos, mas é igualmente importante ter um plano de ação que garanta que a importância e influência dos principais agentes se vão ajustando à medida que o plano de ação evolui. Irão emergir diferentes perspetivas sobre a importância e influência relativas dos agentes.
Existe uma ferramenta que poderá ajudar a fazer o mapeamento dos agentes que devem trabalhar com o Grupo Local:
O mapa do ecossistema dos agentes intervenientes.
Como utilizá-lo:
- Coloque o mapa do ecossistema (mapa parecido com uma teia de aranha com círculos concêntricos) na parede. Em cada segmento, coloque um setor que seja importante para o seu plano, por exemplo a educação, as empresas, a mobilidade, a habitação. Poderá também ser a política social, o ambiente, a economia (pessoas, planeta, rendimentos financeiros).
- Em seguida, veja a que setor pertencem os agentes intervenientes e qual é a sua importância. Utilizando post-its, peça aos membros do Grupo Local para colocar cada agente no mapa e discuta as opções. Depois de chegarem a acordo, coloque então os post-its nas zonas definitivas. Os mais importantes no centro, os menos importantes na periferia. No círculo central figurarão os membros do Grupo Local e nos círculos exteriores os agentes que podem ser importantes, mas que não necessitam de ser membros permanentes do Grupo Local.
Terceiro passo:
Definir um quadro de resultados para determinar os resultados pretendidos com o plano de ação* - «as mudanças que quer ver acontecerem» - indicando quando e como serão medidos os resultados.
Um quadro de resultados é uma forma de definir os resultados desde o início do projeto; o que deverá ser alcançado através do projeto, por quem e como será medido. Ao manter objetivos mensuráveis e escalonados à vista poderá, juntamente com o seu Grupo Local, monitorizar o progresso, ajustar atividades quando necessário e verificar se cumpriu ou não os objetivos iniciais.
O quadro de resultados tem uma série de componentes e termos-chave que são utilizados em todos os programas de Fundos Estruturais. Para utilizá-lo de forma eficaz, é necessário conhecer bem e partilhar o seu conteúdo e linguagem, conforme indicado a seguir:
Lógica de intervenção
A lógica de intervenção é uma forma de descrever um «quadro de resultados». É um instrumento destinado a avaliar a eficácia de um programa ou plano de ação. Explica em que medida uma intervenção contribui para alcançar os resultados previstos; ou os resultados obtidos após a implementação, caso estes não coincidam com os resultados inicialmente pretendidos.
Objetivo específico e resultado previsto
O objetivo específico define a mudança pretendida numa determinada situação económico-social existente que um projeto, programa ou plano de ação tenciona alcançar. Pode ser expresso com a seguinte formulação: melhorar..., reduzir... ou aumentar... Um Plano de Ação Integrado deve ter um ou mais objetivos específicos. Os objetivos devem obedecer sempre à lógica SMART, sigla inglesa para Specific (específico), Measurable (mensurável), Achievable (atingível), Realistic (realista) e Time-bound (calendarizado).
O objetivo específico apresenta o resultado previsto de um programa ou plano de ação. A noção de mudança pode também estar relacionada com mudanças ao nível dos comportamentos, das práticas sociais, das instituições, etc.
O resultado previsto é uma ambição. Embora essa ambição deva ser realista e devam ser desenvolvidos todos os esforços para alcançar o resultado pretendido, é possível que esse resultado não seja cumprido no final do projeto ou programa, ou depois de implementar o plano de ação. O não cumprimento (integral) dos resultados não é necessariamente um falhanço. A avaliação do programa ou plano de ação permitirá tirar conclusões sobre as causas, consequências e ações corretivas.
Indicador de resultado
Os indicadores de resultado são indicadores que descrevem um aspeto específico de um resultado, suscetível de ser medido. A definição de indicadores de resultado claros facilita a compreensão do problema e a ação necessária.
Indicador de realização
O indicador de realização é um indicador que descreve o resultado físico dos recursos despendidos (dinheiro, tempo, esforço) através das intervenções políticas.
Quadro 1: Exemplos de definição de objetivos, de indicadores de resultado e de indicadores de realização
*Para mais informações sobre o quadro de resultados, consulte o guia URBACT sobre “Aplicação do quadro de resultados aos planos de ação integrados” (2016), disponível aqui.
Quarto passo:
Identificar todos os ativos da sua cidade, incluindo:
- População, capital social
- Locais e espaços
- Recursos financeiros
- Edifícios, infraestruturas
- Conhecimento, experiência
- Ativos naturais
Este exercício ajudará a conceber ações mais adequadas tomando em consideração todos os seus recursos e ativos locais, para evitar reinventar a roda.
Quinto passo:
Planear ações e definir um roteiro
Depois de identificar com o seu Grupo Local os problemas locais e os agentes intervenientes que devem participar nas discussões e, depois de definir um objetivo específico ou uma visão, é tempo agora de definir ações para abordar as causas dos problemas, permitindo-lhe alcançar o seu objetivo.
Para definir e aprovar ações com os membros do seu Grupo Local, poderá utilizar o método OPERA
OPERA é um método de cocriação de origem finlandesa que pode melhorar significativamente a eficiência do processo ou os resultados das reuniões mais básicas. Pode ser aplicado em grupos muito pequenos (5 ou 6 pessoas), mas também se revela como um instrumento muito eficiente em grupos de maior dimensão (até 40 a 50 participantes). O método consiste em concentrar toda a atenção do grupo num determinado problema ou questão, e em recolher, filtrar e sintetizar propostas de forma estruturada. Alia abordagens sistematizadas com um processo criativo na resolução de problemas, potenciando deste modo uma aplicação altamente eficiente dos conhecimentos e experiências dos participantes. Através da técnica de discussão em pares, envolve cada participante no processo, mobilizando os seus pontos de vista e propostas, sem deixar que a discussão seja dominada pelos mais extrovertidos.
Como utilizá-lo:
O primeiro passo consiste em identificar uma questão principal tão específica quanto possível ou o problema ou desafio aos quais o grupo pretende dar resposta, por exemplo «Quais são os principais problemas a resolver para melhorar os espaços públicos da nossa cidade?» Uma vez identificada a questão principal, um moderador orienta o grupo através das seguintes fases do método OPERA:
O resultado deste exercício é um conjunto de sugestões de medidas criadas em conjunto e mediante consenso.
É importante elaborar um roteiro ou quadro de ação que lhe permita ter uma visão alargada das suas ações, incluindo resultados previstos, metas, etapas, outputs, recursos humanos, parceiros, calendarização, orçamento e qualquer outra informação que considerar necessária.
Quadro 2: Exemplo de roteiro
Sexto passo:
Comunicar planos de ação e estratégias
Elaborar uma estratégia de comunicação para o seu plano de ação, dirigida a um público mais vasto, é uma tarefa igualmente importante. Poderá organizar eventos públicos para consultar e informar os cidadãos e utilizar os meios de comunicação locais para difundir o plano a uma escala mais alargada.
Conforme as questões abordadas no seu plano de ação, poderá querer alcançar um público-alvo específico: a sua autoridade de gestão, potenciais financiadores, cidadãos e outras partes interessadas.
Referências: Para mais informações sobre os instrumentos e métodos referidos, visite: http://urbact.eu/capacity-building
Submitted by Ana Resende on