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Playful Paradigm II: Um novo projeto que beneficia da experiência bem-sucedida da primeira edição Playful Paradigm

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11 February 2022
Read time: 4 minutes

Não tente controlar a brincadeira, apenas torne o espaço lúdico!

A experiência da rede Playful Paradigm, desenvolvida entre abril de 2018 e junho de 2021, mostrou claramente que as pessoas não precisam de explicações sobre onde e como brincar. Precisam de espaços públicos coloridos, verdes, seguros e confortáveis, livres de automóveis e abertos para as crianças, adolescentes, raparigas, rapazes e adultos brincarem. Com esta lição aprendida e como consequência da covid-19, surgiu a nova vaga Playful Paradigm.

A edição do novo projeto foca a perspetiva lúdica em particular nas questões de género, nas abordagens intergeracionais, nos mais idosos ou nas pessoas com doenças crónicas e adolescentes, para repensar os espaços urbanos e abordar desafios de saúde específicos, tais como a prevenção da solidão e do isolamento.

A rede Playful Paradigm envolve cinco cidades europeias. O município de Udine, parceiro líder encarregado de partilhar e transferir a Boa Prática centrada na utilização de jogos, e outas quatro cidades empenhadas em promover o ato de brincar ao nível da cidade para promover a inclusão social e a participação cívica, estilos de vida saudáveis, a sustentabilidade, a reinvenção de espaços públicos de modo participado (placemaking) e a prosperidade económica. Os municípios parceiros são: Grosuplje na Eslovénia, Jelgava na Letónia, Lousã em Portugal e Igualada em Espanha.

A rede Playful Paradigm II resulta da experiência desenvolvida na cidade de Udine através da abordagem do paradigma lúdico, partilhada e transferida pelo projeto “Playful Paradigm I” para os outros sete parceiros da rede: Klaipėda (Lituânia), Larissa (Grécia), Katowice (Polónia), Cork (Irlanda), Esplugues de Llobregat (Espanha), Novigrad-Cittanova (Croácia) e Viana do Castelo (Portugal). Estas cidades alcançaram ótimos resultados ao utilizarem o ato de brincar e uma abordagem lúdica como ferramentas flexíveis e inovadoras para cocriarem iniciativas locais, promoverem saúde e bem-estar, estilos de vida saudáveis, consciência energética e sustentabilidade, envelhecimento ativo, novas estratégias de placemaking e de utilização dos espaços urbanos.

Da experiência lúdica de Udine ao trabalho em rede para promover o ato de brincar nas cidades

O município de Udine começou há mais de 20 anos a promover o ato de brincar como uma ferramenta flexível e inovadora para lidar com os desafios urbanos contemporâneos e promover a saúde e a sustentabilidade (mais informação disponível em: The Playful Paradigm Good Practice e Bem-vindo às Cidades Lúdicas da Europa!). A cidade tem um programa lúdico rico gerido por uma unidade municipal responsável pela coordenação e todas as iniciativas que lidam com a brincadeira. As mais relevantes são:

  • A iniciativa “Ludobus” – uma livraria lúdica móvel utilizada para promover atividades lúdicas tanto nos subúrbios como no centro da cidade;
  • A Ludoteca;
  • Um calendário de eventos lúdicos (Dia Internacional dos Jogos, Energia em Movimento (Energy in Play), Dia de Pi, Dia de Darwin, Biblioteca de Livros Vivos, etc.)
  • Iniciativas educativas lúdicas com escolas e centros de educação não formais;
  • O Arquivo Nacional Italiano de Jogos.

O valor acrescentado da experiência da primeira rede Playful Paradigm foi a oportunidade de melhorar e ampliar a boa prática. Novas soluções baseadas nos jogos foram desenvolvidas e partilhadas graças a uma estreita cooperação entre parceiros e um processo integrado de participação local. Por exemplo, a abordagem do paradigma lúdico foi aplicada ao planeamento urbano através de iniciativas de placemaking temporário, de urbanismo tático e de desenvolvimento de um jogo urbano.

Estes resultados são a base para o Playful Paradigm II, uma segunda vaga que dá a oportunidade de melhorar a boa prática, ao fortalecer o processo de transferência, reforçando alianças e parcerias baseadas na promoção de soluções lúdicas ao nível internacional e ao investigar alguns aspetos da primeira fase do projeto. Em particular, esta rede centra-se em:

1. Melhorar a perspetiva lúdica, com enfoque nas questões de género, nas abordagens intergeracionais, nos mais idosos ou nas pessoas com doenças crónicas e nos adolescentes. As crianças são geralmente o grupo alvo preferencial, já que ficou provado que os jogos podem promover o seu bem-estar e desenvolvimento.  Mas os jogos podem também ser extremamente importantes para os adolescentes, especialmente face aos efeitos do confinamento da pandemia de covid-19 e à aprendizagem à distância a que se viram forçados. O mesmo poderá dizer-se acerca das pessoas mais idosas, já que brincar pode ser utilizado como um estímulo cognitivo e emocional válido para prevenir o declínio cognitivo e contrariar a solidão e o isolamento. Finalmente, são de extrema importância as questões de género em termos de utilização do espaço urbano e campos de jogos, de adaptação ao jogo, de preconceitos e estereótipos.

2. Explorar mais os jogos como uma ferramenta para redesenhar espaços urbanos, ao generalizar esta abordagem nas nossas cidades, ao promover a capacitação dos projetistas e decisores, ao investigar a relação entre o instrumento padrão do lugar e o instrumento padrão da atividade lúdica. A ideia é desenvolver uma espécie de modelo de planeamento urbano que tome em consideração a necessidade de infraestruturas e atividades lúdicas na conceção dos espaços urbanos.

3. Abordar desafios específicos da saúde, tais como a prevenção da solidão e o isolamento e a promoção do bem-estar emocional e social, também para contrariar os efeitos da pandemia da covid-19. Esta crise global que enfrentamos aumentou incrivelmente as desigualdades na saúde, a desconexão, a solidão, os distúrbios mentais, em particular para os grupos populacionais vulneráveis, e o ato de brincar pode ser um alívio assim como uma ferramenta para promover a inclusão social, a participação e a saúde mental, emocional e relacional.

Quatro módulos para transferir o Playful Paradigm ao nível da cidade

A metodologia para desenvolver as Atividades de Intercâmbio e de Aprendizagem Transnacionais (Transnational Exchange and Learning Activities - E&L) no quadro da rede Playful Paradigm II baseia-se num dos mais relevantes resultados da transferência da primeira vaga: o “Policy-Manifesto of European inclusive Playful Cities”.

A metodologia de transferência centra-se em 4 Módulos de Transferência que contêm “abordagens baseadas nos jogos”, consistindo em atividades práticas relevantes implementadas por Udine e pela primeira rede Playful Paradigm, e “espaços para melhoramentos” com o objetivo de ampliar o Playful Paradigm, considerando em especial a emergência da covid, a inclusão de pessoas marginalizadas, uma abordagem baseada nas questões de género e a necessidade de repensar a utilização dos espaços públicos urbanos.

O Módulo 1 – BRINCAR PARA A REGENERAÇÃO URBANA SUSTENTÁVEL, analisa a possibilidade oferecida pelos jogos para se repensar os espaços públicos. Começando pela iniciativa Ludobus e as experiências lúdicas de placemaking, também trata as abordagens baseadas nas questões de género para os espaços públicos e campos de jogos, a abordagem intergeracional para incluir pessoas mais idosas e adolescentes na vida da cidade e ferramentas digitais lúdicas para repensar os espaços da cidade.

O Módulo 2 – BRINCAR PARA A INCLUSÃO E A PARTICIPAÇÃO, procura desenvolver um novo conceito para as Ludotecas olhando para novas oportunidades para transformá-las em laboratórios vivos inclusivos, envolvendo as pessoas mais marginaizadas. Também procura fornecer uma reflexão sobre lugares-de-jogo virtuais e o papel dos jogos de vídeo, direcionada aos adolescentes, aos pais e às famílias.

O Módulo 3 – BRINCAR PARA A EDUÇÃO, dedica a atenção a uma abordagem inovadora à educação ao providenciar experiências lúdicas tanto em ambientes de aprendizagem formais como informais, nas escolas e em eventos da cidade. Aborda as necessidades dos adolescentes em lidarem com os efeitos negativos da pandemia de covid-19.

O Módulo 4 - BRINCAR PARA A SAÚDE E O BEM-ESTAR, promove uma abordagem integrada – social, económica e ambiental – através da filosofia “WHO Healthy Cities”. Prevê montar um “Play Laboratory for health”, onde parceiros do projeto poderão criar novas soluções para promover a saúde e o bem-estar nas comunidades locais.

BRINCAR É UM ASSUNTO SÉRIO E PODE FAZER A DIFERENÇA!

Em suma, a filosofia subjacente a este projeto baseia-se no ato de BRINCAR como promotor de inclusão social e participação, mediador intergeracional e cultural, facilitador de estilos de vida saudáveis e de consciência energética, placemaker e impulsionador económico para comunidades resilientes.

Brincar ajuda a transformar ambientes em incubadores/aceleradores de sustentabilidade e bem-estar (físico, mental e social/relacional): de ambientes baseados na necessidade para ambientes baseados nas qualidades, de uma aproximação estática para uma aproximação dinâmica, do espacial ao transformativo, do passivo ao facilitador e ao empoderador, de lugares com um único ponto de acesso para lugares com múltiplos pontos de acesso com múltiplas apropriações. A aproximação promove o placemaking criativo ao conceber espaços urbanos como bens comuns e ao valorizar a economia local e a inovação social.

BRINCAR É UM ASSUNTO SÉRIO E PODE FAZER A DIFERENÇA no futuro das nossas cidades, ao ajudá-las a repensar o “bem-estar da comunidade” através do envolvimento das comunidades locais e da melhoria da sua coesão e da sua resiliência.

 

Texto da autoria de Ileana Toscano, submetido a 8 de Novembro de 2021