Piratear as nossas cidades e testar as nossas ideias - uma reflexão sobre 2021 no âmbito do Projeto iPlace
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16 May 2022Por vezes, as restrições que limitam a nossa forma de trabalhar podem ser transformadas em algo positivo. As dez cidades parceiras do Projecto URBACT iPlace estabeleceram para si próprias a tarefa de dar aos seus cidadãos a oportunidade de “piratear a sua cidade” durante a pandemia de Covid-19 e as significativas restrições à interação física nos países de todos os parceiros.
Para realizar hackathons [eventos de discussão para desenvolver ideias inovadoras, geralmente no âmbito da informática, mas não exclusivamente], foi necessário formar equipas sem reuniões presenciais. A cidade de Saldus utilizou a plataforma digital Slack para os participantes dos encontros se inscreverem, se apresentarem e formarem equipas. Foi um processo mantido em aberto, sem temas predefinidos ou outros requisitos para as equipas. O resultado foi a criação de 16 equipas que, durante um período de 26 horas em março de 2021, interagiram com mentores de equipas, peritos temáticos e outras fontes de conhecimento, tais como masterclasses, a fim de desenvolverem os seus conceitos para novas atividades económicas locais. No final dos encontros, todas as 16 equipas apresentaram ideias para o desenvolvimento da economia de Saldus (LV). Um dos resultados inesperados foi o elevado número de participantes oriundos da diáspora da cidade. Saldus é uma cidade pequena, de onde muitos dos seus jovens partem para estudar e trabalhar em cidades maiores. O hackathon tornou-se uma forma, para os que partiram, de restabelecerem a ligação e partilharem as suas ideias.
Uma das razões pelas quais todas as cidades parceiras organizaram hackathons bem sucedidos foi a formação proporcionada pela cidade parceira de Kočevje (SI) durante uma Reunião Transnacional, realizada em novembro de
Com base num inquérito realizado entre as cidades parceiras em novembro de 2021, é patente que os hackathons foram um grande sucesso. Seis dos dez parceiros atribuíram a classificação de
Os hackathons foram apenas o início de um processo de planeamento integrado em que foram apresentados ideias e contributos das pessoas, organizações e instituições locais. O passo seguinte foi a seleção, pelos Grupos Locais URBACT de cada cidade parceira, de ideias para realizar mais testes utilizando a abordagem URBACT para experimentar Ações de Pequena Escala.
Um excelente exemplo de exploração das restrições que a pandemia de Covid-19 impôs aos ambientes de trabalho veio do nosso parceiro líder, a cidade de Amarante em Portugal. O objetivo era criar uma oportunidade para profissionais altamente qualificados do setor tecnológico, que podem trabalhar a partir de qualquer local, considerarem e experienciarem Amarante como uma opção. A hipótese de partida foi a assunção que, durante a pandemia, os criadores de software e outros profissionais de base tecnológica irão aproveitar a oportunidade e abandonar as grandes cidades em busca de um melhor ambiente (mais liberdade de movimento e proximidade da natureza) para escapar às restrições do confinamento. Neste contexto, testou-se a capacidade de Amarante para atrair talento qualificado. A Ação de Pequena Escala de Amarante consistiu em publicar convites à apresentação de candidaturas em revistas selecionadas e nas redes sociais, seguindo-se a avaliação por um painel, que atribuiu gratuitamente apartamentos a três candidatos, localizados na cidade, totalmente mobilados, durante um mês. Em troca, os vencedores apresentaram um workshop para a comunidade tecnológica local sobre um tema especializado da sua escolha, que foi bem recebido.
No estudo realizado como parte da Avaliação Intercalar, a maioria dos parceiros do projeto indicou que a utilização de Ações de Pequena Escala foi muito útil para preparar os seus Planos de Ação Integrados.
O quadro seguinte dá uma ideia dos tipos de Ações de Pequena Escala desenvolvidos pelas cidades parceiras:
Cidade parceira | Descrição da Ação de Pequena Escala | Objetivo principal da Ação de Pequena Escala |
Amarante, Portugal | Talent Check-in - uma iniciativa para criar uma rede de profissionais do setor tecnológico para o Amarante Tech Hub. | Mapear o talento que existe na região de modo a validar se existe talento para o cluster TIC. |
Balbriggan, Irlanda | Mercado local de artesanato com trabalho de artesãos locais no Castelo histórico de Bremore. | Para testar se existe procura na área de Balbriggan para os produtos dos artesãos locais. |
Gabrovo, Bulgária | Empreendedorismo jovem na Zona da Juventude - o papel dos mentores. | Para testar como os mentores podem ajudar os jovens a permanecer em Gabrovo e a iniciar um negócio. |
Grosseto, Itália | ‘My Green Week’ - oferta da cidade fora da época alta e promoção da vida ecológica para os visitantes | Testar as melhores formas de ligação com turistas ecológicos interessados em visitas fora da época alta. |
Heerlen, Países Baixos | Laboratório de Verão da Zuyd Hogeschool no centro da cidade - envolvimento dos cidadãos | Testar como os cidadãos respondem a uma deslocalização de elementos da universidade para o centro da cidade. |
Kočevje, Eslovénia | Arte e identidade nos espaços públicos da cidade - murais de contexto na cidade por artistas locais. | Promover os artistas locais e explorar como podem criar alternativas geradoras de novos negócios. |
Medina del Campo, Espanha | Formação online de empresários - com webinars através da plataforma Simon Ruíz. | Aproveitar os conhecimentos e competências locais do Grupo Local URBACT para preparar e apresentar webinars. |
Pärnu, Estónia | Loovlinnak Creativity Hub - espaço temporário para agrupar empresas criativas | Mudar a perceção da cidade como sendo apenas um lugar de férias, para sendo também um lugar para os criativos. |
Pori, Finlândia | Ars Pori Megastore - um evento artístico de seis semanas num centro comercial do centro histórico da cidade | Para demonstrar como a arte pode revitalizar “espaços mortos” no centro da cidade. |
Saldus, Letónia | Conversão de um espaço abandonado na cidade para utilização como Centro de Eco-inovação | Para testar se uma pequena cidade como Saldus está pronta para o desafio de um estilo de vida ecológico sustentável. |
A Revisão Intercalar do projeto revelou também como as cidades parceiras tencionam ter um impacto positivo nas suas economias locais. Os Grupos Locais URBACT das cidades de Amarante, Gabrovo, Pärnu, Medina del Campo e Saldus pretendem trabalhar com os jovens para tornar as suas cidades mais atrativas de modo a permitir a permanência destes e a criação ou colaboração com empresas locais. Nas cidades de Heerlen, Kočevje e Pori, a ênfase é colocada na vitalidade da economia do centro da cidade com a introdução de novos elementos, tais como instituições educativas e culturais, assim como serviços de transporte e melhorias no espaço público. As cidades de Balbriggan, Pärnu e Pori estão a desenvolver ações para promover e apoiar o aumento e expansão de empresas criativas nas economias das suas cidades. As cidades de Grosseto, Gabrovo, Saldus e Medina del Campo irão preparar ações que ajudarão as suas economias locais a beneficiar da transição verde liderada pela União Europeia. As cidades de Amarante, Gabrovo e Kočevje estão a concentrar-se em ações destinadas a melhorar os ecossistemas tecnológicos nas suas economias locais.
Durante a pandemia, o projeto voltou a utilizar webinars na plataforma Zoom para formação e partilha de conhecimentos. A formação de todos os coordenadores dos Grupos Locais URBACT neste domínio, ministrada pela Dra. Louise O'Meara da Queens University de Belfast, em dezembro de 2020, foi muito bem recebida. O conhecimento foi partilhado ao longo de dez webinars temáticos abordando tópicos tão variados como os ecossistemas de start-ups locais e o futuro do local de trabalho. Estes tópicos foram acordados pelos parceiros durante a fase de desenvolvimento e, desde a Revisão Intercalar, ficou claro que os tópicos foram relevantes e que os eventos foram muito úteis.
Durante um workshop online apresentado pelo perito URBACT Ivan Tosics, em novembro de 2021, todas as cidades parceiras refletiram sobre a integração e o impacto das suas ações e sobre o modo de potenciar ainda mais os resultados horizontal e verticalmente. Este workshop seguiu-se a uma sessão online promovida pelo projeto, em setembro de 2021, sobre o valor da Diversidade, Abertura e Igualdade de Género no desenvolvimento económico local, apresentada por Alison Partridge, perita URBACT Ad Hoc. Esta sessão proporcionou oportunidades de aprendizagem aos parceiros para conceberem ações que resultarão em cidades mais propensas a aceitar a diversidade e a igualdade de género.
O projeto está agora na sua fase final e, desde a Revisão Intercalar, ficou claro que foi feito um trabalho meritório por todos os parceiros de maneira a criar as fundações e os procedimentos para o desenvolvimento de planos de ação eficazes. E agora, eis-nos chegados à parte mais excitante onde os parceiros revelam os seus Planos de Ação Integrados e "ligam os motores" para avançar para a sua aplicação e concretização!
Fique atento a este espaço para mais ação!
Autoria: Wessel Badenhorst, Perito Líder do Projeto iPlace, submetido em dezembro de 2021
Submetido por Sonia Files a
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