Criar ambientes urbanos que motivem os jovens a prosseguir carreiras no domínio da tecnologia criativa
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28 December 2017O impacto da crescente escassez de talento técnico começa a ser sentido nas economias urbanas em toda a Europa. Neste artigo, Jim Sims, perito da rede URBACT Gen-Y-City, analisa as políticas nos domínios da educação e das competências na Europa e defende a criação de ambientes urbanos capazes de inspirar os jovens a prosseguir carreiras no domínio da tecnologia.
De acordo com a Business Europe, a falta de profissionais qualificados nas áreas das ciências, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM) constituirá um dos principais obstáculos ao crescimento económico nos próximos anos. Se, por um lado, a procura de pessoas com competências nas áreas CTEM está a aumentar em todo o mundo, por outro, muitos trabalhadores destas áreas estão a aproximar-se da idade da reforma e algumas previsões sugerem que, no período entre 2016 e 2025, surgirão 7 milhões de novas ofertas de trabalho no setor da tecnologia.
Segundo a OCDE, a distribuição de licenciados por área não sofreu alterações significativas desde 2005. Humanidades, ciências sociais, direito e educação continuam a representar uma quota-parte superior em relação às ciências, tecnologia, engenharia e matemática nos países da OCDE e do G20. Em França, na Alemanha, no Reino Unido e nos EUA, os licenciados com qualificações CTEM (incluindo os alunos que estudam nesses países oriundos de outros países) representam menos de um terço do pool de talento.
Comparativamente, em 2012, a China registava 40% de licenciados nas áreas CTEM e 45% de licenciados em humanidades, ciências sociais, direito e educação, ao passo que as percentagens registadas na Índia foram de 35% e 53%, respetivamente. A OCDE prevê que, se as percentagens de licenciados CTEM continuarem a registar estes níveis, em 2030 a China e a Índia representarão mais de 60% dos licenciados CTEM dos países da OCDE e do G20, e os países BRIICS formarão três quartos dos licenciados CTEM a nível mundial. A Europa e os Estados Unidos ficarão bastante atrás, com 8% e 4% dos licenciados CTEM em 2030, respetivamente.
Apesar de se poder argumentar que não é importante que um qualquer país forme licenciados nas áreas CTEM, desde que haja um número suficiente desses licenciados em mobilidade e o talento continue a ser móvel, poder-se-á considerar, com razão, que esta é uma visão algo simplista.
Embora as políticas no domínio da mobilidade de talentos e da imigração estejam intimamente relacionadas, tudo o que aprendemos sobre comunicação e comportamento de multidões nos últimos anos sugere que os seres humanos são animais inerentemente tribais e que o sistema social a que somos expostos nos primeiros anos é tão importante para moldar as nossas crenças e atitudes como as interações com os outros.
Da mesma forma, inúmeros autores e investigadores indicam que a existência de um sistema de educação CTEM “autóctone” de elevada qualidade pode produzir muitos benefícios indiretos. Entre esses benefícios incluem-se a melhoria das competências no domínio da resolução de problemas e da criatividade das crianças; uma sociedade melhor preparada para lidar com a inovação tecnológica; uma força de trabalho mais competitiva; a melhoria da produtividade e da competitividade das empresas de base tecnológica e economias com níveis salariais superiores.
Muitos destes mesmos autores defendem também o desenvolvimento do conceito “CTEM” por forma a incluir a Arte e o Design, a fim de promover as carreiras nas áreas CTEAM. Tal deve-se ao facto de a adição da Arte e do Design promover a criação de produtos e serviços de maior valor, ajudando também a promover as carreiras no domínio da tecnologia junto dos jovens, enquanto disciplina inerentemente criativa.
Para este fim, muitas cidades em toda a Europa estão a tentar dar resposta aos níveis decrescentes de talento tecnológico criativo, através da criação de mercados urbanos dinâmicos de enriquecimento no domínio da tecnologia criativa, repletos de Fab Labs Coding Clubs (laboratórios de fabrico digital), Maker Spaces (laboratórios comunitários), Centros de Ciência e Festivais, a fim de estimular mais jovens a prosseguirem carreiras nesse domínio. A rede Gen-Y-City centrará as suas atividades de intercâmbio e aprendizagem neste desafio, adaptando boas ideias e iniciativas bem-sucedidas de cidades parceiras, como as descritas no presente artigo.
Por exemplo, este ano a Zona Metropolitana de Bolonha e a cidade de Bolonha, em colaboração com os parceiros do projeto do Plano Estratégico Metropolitano, denominado “O relançamento da educação técnica”, estão a organizar um Technical Culture Festival, cujo programa inclui um grande número de reuniões, debates e demonstrações do percurso aventureiro entre o pensar e o fazer, e que terá lugar entre 28 de outubro e 19 de dezembro de 2016. Esta atividade complementa inúmeras outras iniciativas levadas a cabo na cidade, concebidas para inspirar os jovens a seguirem carreiras no domínio da tecnologia criativa.
Do mesmo modo, em Nantes, a promoção do talento no domínio da tecnologia criativa inclui um conjunto de iniciativas e atividades. A Nantes Digital Week promove os benefícios da participação e da inclusão digital junto dos residentes locais; o Web2Day Digital Festival promove Nantes como uma cidade digital em todo o mundo; uma rede de “Maisons de l'Emploi” fornece aos residentes informação sobre empregos e formação na área digital; a ONG PiNG promove a Platform C Fab Lab, oferecendo aos jovens a oportunidade de descobrir o mundo do fabrico digital; a Atlantic 2.0 gere o espaço de coworking La Cantine, para empreendedores digitais; a Nantes Creative Generations promove intercâmbios e iniciativas entre jovens residentes em Nantes e noutras cidades europeias; e a CLAP presta apoio a jovens “difíceis de alcançar”, com vista à materialização dos seus projetos e ideias concebidos nos seus próprios bairros.
Tal como explica Jean-Jacques Derrien, gestor de projetos para a cidade de Nantes: “Em Nantes, usamos a expressão ‘à la nantaise’, um termo originário do jornalismo futebolístico dos anos 90, para descrever o estilo particular de jogo do Clube de Futebol de Nantes, centrado em grande medida no ataque, em que o esforço coletivo da equipa era mais importante do que o valor individual de cada jogador e em que cada jogador se unia aos restantes no campo, vendo-os como parceiros de confiança. Ao desenvolvermos a nossa abordagem e ao tentarmos criar um ambiente que inspire os jovens a seguir uma carreira digital, estamos também a tentar replicar um estilo semelhante, em que um conjunto de atividades desenvolvidas por parceiros sustentam o objetivo partilhado de criação de uma Nantes digital.”
Contudo, alguns dos maiores desafios enfrentados pelas cidades que tentam criar um ambiente enriquecedor para os jovens em termos de tecnologia criativa incluem o financiamento, o reforço de capacidades das instituições de educação extracurricular, a promoção da ação colaborativa e a capacidade de influenciar as políticas dos Estados-Membros no domínio da educação. Isto deve-se em grande medida ao facto de, ao abrigo do princípio da subsidiariedade, os ministérios nacionais serem largamente responsáveis pela educação dos jovens até aos 14 anos em muitos Estados-Membros, e ao facto de os fundos estruturais não terem geralmente como alvo a população com menos de 15 anos.
Torna-se óbvio que o objetivo de assegurar uma oferta suficiente de talento no domínio da tecnologia criativa é extremamente importante para as cidades europeias impulsionarem a existência de um maior número dos denominados “unicórnios”, ou seja, start-ups tecnológicas avaliadas em mais de mil milhões de dólares.
De acordo com um estudo realizado pelo Technology Investment Bank, GP Bullhound, existem atualmente 47 empresas unicórnio europeias; no entanto, a Europa é geralmente menos bem-sucedida do que os Estados Unidos no apoio ao desenvolvimento das empresas, à sua transformação em líderes setoriais e à sua entrada no mercado global. Durante a Global Entrepreneurship Week 2016, que tem lugar este mês, serão abordados temas-chave como o investimento, o desenvolvimento e as cidades, todos ingredientes vitais para um melhor desempenho empresarial no domínio da tecnologia criativa a nível europeu.
Tal como referido no blog de Andrus Ansip, atual vice-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro da Estónia, e responsável pela gestão da equipa do projeto Digital Single Market Project: “Apenas metade dos unicórnios europeus alcançaram uma venda ou uma OPI, em comparação com os dois terços nos Estados Unidos, o que sugere que a Europa apresenta um ambiente mais difícil para o investimento tecnológico. As start-ups sentem dificuldades em recrutar e reter o talento certo, e em obter acesso ao financiamento em diferentes etapas do seu crescimento. O mercado de capitais e de talento está muito fragmentado, tal como os regimes regulamentares, o que dificulta a criação de uma empresa noutro Estado-Membro da UE, com pessoas provenientes de diferentes países, ou de fora da UE.”
Em resposta a estas questões, a rede Gen-Y-City, sob a liderança da cidade de Poznan, apoia as cidades no que diz respeito ao intercâmbio de boas práticas e à aprendizagem de formas eficazes de desenvolvimento de ambientes urbanos ricos em atividades inspiradoras no domínio da tecnologia criativa, destinadas a motivar um maior número de jovens a prosseguirem carreiras neste domínio e a impulsionar a criação de novas start-ups tecnológicas que ajudem a manter a prosperidade das cidades em toda a União Europeia. O intercâmbio centrar-se-á num conjunto de temas principais identificados no Baseline Study, como a liderança e a governação colaborativas, a criação de espaços públicos atrativos (placemaking), o desenvolvimento do talento jovem em matéria de tecnologia criativa e a atração e integração de talento tecnológico migrante nas cidades. Continue a acompanhar-nos na descoberta e partilha das nossas histórias.
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Texto da autoria de Jim Sims apresentado a 14 Novembro 2016
Submitted by Ana Resende on