Novos tempos, novas ferramentas
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23 June 2020O perito Eddy Adams reflete sobre os impactos da covid-19 no URBACT e na cooperação transnacional.
Numa escala de 1 a 10, quanto é que gostou do confinamento? Muito provavelmente, as respostas irão agrupar-se em cada extremo da escala. Nesta era de extremos, em que o amor e o ódio triunfam sobre o centro seguro, as reações à pandemia seguem a mesma linha.
Para muitos de nós, a maior mudança associada ao confinamento foi a adoção de uma vida de trabalho e social predominantemente online. Se é um funcionário municipal, ou se está a trabalhar a partir de casa, a situação terá sido agravada pela reafectação de novas tarefas e incerteza sobre o futuro. Para muitos, o “novo normal” significará disrupção organizativa e cortes no rendimento.
Nem tudo é mau
Comecemos por focar-nos nas coisas boas. Os pássaros cantam, o ar ficou mais limpo e o ritmo de vida abrandou. Claro que temos a pequena questão da economia, mas, por agora, vamos disfrutar do momento. Para muitos, este é o mundo que desejávamos: menos automóveis, menos aviões e redução das emissões industriais. Só que não foi assim que planeámos lá chegar, tratando-se verdadeiramente de um momento “tem cuidado com o que desejas”.
De facto, a realidade é que o status quo ante nunca foi uma opção viável. Se as mensagens chave do Acordo de Paris eram já suficientes, o Pacto Ecológico Europeu sublinhou a tensão entre o que temos de fazer e o modo como estávamos a comportar-nos. Mesmo que possamos retornar às nossas vidas anteriores, temos o dever de evitar fazê-lo: um dever para com o planeta, as nossas comunidades e aqueles que virão depois de nós.
O que significa isto para as redes de cidades transnacionais do URBACT? No curto prazo significa repensar e reprogramar. No que respeita a viagens internacionais, podemos dizer arrivederci a 2020. Para as 46 redes de cidades a decorrer, isto envolve muita reflexão criativa sobre métodos de trabalho. Como podemos manter a dinâmica colaborativa sem as reuniões físicas agendadas?
Para o programa, tal requereu algumas decisões difíceis como o cancelamento da URBACT Summer University (USU) em Dubrovnik. Este evento único de capacitação, juntando 500 profissionais URBACT de toda a Europa, providencia os princípios metodológicos e as interligações para as nossas Redes de Planeamento de Ação.
Mas não é altura de ficarmos presos àquilo que perdemos. Como em todos os momentos de crise, vencedores e vencidos irão emergir dos escombros desta experiência; e aqueles que conseguirem aplicar as lições chave mais eficazmente serão os mais beneficiados. Para o URBACT, o preço é redefinir o significado da cooperação transnacional na Europa de um modo mais consistente com os nossos objetivos ambientais. Se a experiência da covid-19 nos ensina algo, deverá ser a urgência de dar prioridade às necessidades do planeta sobre tudo o resto.
O fim da cooperação transnacional tal como a conhecemos?
Isto não significa o fim da cooperação internacional entre as cidades europeias. No entanto, deverá significar o final de inúmeras viagens de avião pelo continente europeu, pagas com fundos públicos. Ao mesmo tempo, não marca o fim das reuniões presenciais. Como humanos que somos, necessitamos dessas ligações pessoais, sendo a cooperação baseada em fortes relações de trabalho. Uma reunião Zoom com uma pessoa que já se tenha encontrado na vida real é muito diferente do intercâmbio com um estranho através de um ecrã.
Nos próximos meses – talvez anos – procuraremos cautelosamente chegar a um novo modelo de cooperação transnacional, seja ele qual for. Será provavelmente uma abordagem que combine significativamente menos reuniões físicas, com um número crescente de intercâmbios colaborativos online. Alguns não gostarão disso; por exemplo, aqueles que apreciam a experiência de viajar de avião a baixo preço. Contudo, muitos mais verão esta mudança com bons olhos, entre eles pessoas com incapacidades e com a responsabilidade de cuidados a dependentes.
Como fazer com que aconteça?
Se a sua nova vida é assistir a intermináveis reuniões online com monótonas cabeças falantes, então estará provavelmente a recear o pior. Na realidade, o futuro bem-sucedido da cooperação transnacional está dependente da nossa habilidade para fazer melhor do que isso. Muito melhor.
Nos dias 4 e 5 de junho de 2020, a reunião de kick-off para a fase 2 das Redes de Planeamento de Ação juntou cerca de 100 pessoas de toda a Europa. A equipa URBACT redesenhou a reunião para um contexto online, o que incluiu encurtar as sessões, focando-as nos aspetos essenciais e permitindo aos participantes circularem entre uma a 23 salas virtuais, testando novas ferramentas online. Terá sido um vislumbre de como poderá vir a ser a futura cooperação?
Sobretudo, os participantes foram positivos sobre a reunião e as possibilidades proporcionadas pela tecnologia digital. Fabiana, representante do Parceiro Líder da rede Healthy Cities, comentou: “Prefiro reuniões presenciais, mas estou a habituar-me a esta nova situação.”
Também existe o reconhecimento de que o URBACT tem um papel catalisador neste aspeto. Patrizia, representante do Parceiro Líder da rede Thriving Streets, disse: “O URBACT é sobretudo interações, intercâmbio, partilha, relações; não é apenas a questão do uso de plataformas, mas também de inovação social, agora tendo em consideração o fosso digital, dando resposta a novas maneiras de nos relacionarmos uns com os outros, novos modos de fazer, organizando mas também pensando.”
Ao longo dos últimos dez anos, o programa teve sucesso na criação de uma boa reputação no que respeita a aplicação de princípios de participação e interatividade nas suas redes. Intervenções como a Summer University foram vitais na comunicação desta mensagem, permitindo aos funcionários municipais colocarem em prática estes princípios. Deste modo, o programa construiu fortes relações de confiança em cada canto do continente – e com cidades de todas as dimensões. O URBACT pode agora otimizar estas redes de confiança para apoiar a transição para a próxima geração de colaboração urbana na Europa.
Sim, há barreiras consideráveis para que tal aconteça: a renitência das autoridades públicas relativamente às plataformas digitais é uma delas; a falta de familiaridade com as novas ferramentas é outra. Mas estas barreiras não são inultrapassáveis.
Na verdade… as ferramentas sempre estiveram lá
As plataformas digitais e ferramentas já estão disponíveis. De facto, já existem há algum tempo, mas, até recentemente, escolhemos não as adotar. Ao invés, lançámo-nos em viagens de avião e, na melhor das hipóteses, empregámos as ferramentas digitais como se fossem nada mais do que telefones visuais. Este é o nosso momento “aha!”, ao apercebermo-nos que o crescente repertório de produtos digitais nos permite fazer quase tudo o que fazemos em reuniões presenciais – e mais.
O URBACT já está na vanguarda desta mudança. O programa está a conceber uma série de recursos para apoiar as suas redes na otimização de ferramentas digitais para a colaboração, o que inclui pesquisar e analisar uma crescente panóplia de plataformas e ferramentas. Também envolve pesquisar quais as competências requeridas para conceber e facilitar eventos online bem-sucedidos. Para o URBACT, isso significa ter sessões bem geridas e com objetivos claros, com alto nível de participação – e também agradáveis.
Não vamos fazer de conta que já lá chegámos: continua a ser um work in progress. O redesenho da Summer University como uma experiência digital e a nossa “caixa de ferramentas” online, prestes a ficar disponível, são componentes importantes, tal como os recursos do programa para apoiar e capacitar no acesso online. Estamos na base da montanha para uma longa escalada.
O que é importante é que reconheçamos que recuar não é uma opção. Partindo de uma perspetiva positiva, esta crise ajudou a mostrar o caminho à nossa frente, não apenas em termos de uma resposta à pandemia a curto-prazo. A mensagem é clara: temos de reformular o nosso modelo de trabalho para que seja sustentável, bem como consistente com as prioridades de políticas estabelecidas pelo Pacto Ecológico Europeu. Cidades da Europa, estão connosco?
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Texto da autoria de Eddy Adams, apresentado a 8 de junho de 2020
Submitted by Ana Resende on