Se quisermos levar a cabo projetos europeus, o URBACT é o lugar para começar
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20 February 2020Conheça Kieran McCarthy, membro do Comité das Regiões da UE e Vereador da cidade de Cork.
O vereador Kieran McCarthy é uma ligação viva entre os desafios diários da sua cidade natal, Cork (IE) e os mecanismos internacionais de definição das políticas europeias. Com um doutoramento em geografia e uma paixão pelo património local corkheritage.ie, McCarthy é o relator do Comité das Regiões (CoR) para a Agenda Urbana para a UE e um acérrimo defensor da melhoria das cidades europeias através de ações concretas e da cooperação a nível local.
Enquanto parceira da rede de transferência URBACT Playful Paradigm, a cidade do vereador McCarthy organiza parques infantis pop-up em locais como ruas pedestres temporárias, edifícios públicos ou terrenos vazios, promovendo a inclusão, a saúde e a sustentabilidade.
De regresso de uma volta com a sua scooter para fotografar pontos de referência locais para o seu próximo livro, o vereador McCarthy reservou um momento para responder às nossas perguntas.
Amy Labarrière (AL) - Desde que descobriu o URBACT na Semana Europeia das Cidades e das Regiões, que se tornou um entusiasta do programa. Porquê?
Kieran McCarthy (KMC) - Aquilo de que gosto no URBACT é o seu carácter pragmático. É como um degrau: se quisermos levar a cabo projetos europeus, é o lugar certo para começar – há muito apoio.
Tenho observado as letras que compõe o URBACT e, sei que não é um acrónimo, mas penso que as letras poderiam significar...
U para "us", ou "nós" em português. Já que se trata de um programa orientado para os cidadãos. Construímos uma nova ponte na nossa cidade com fundos da UE... mas aquilo que as pessoas mais ouvem aqui é falar do URBACT e do Playful Paradigm.
Diria que o R de URBACT significa responder a problemas muito "Reais", mesmo a uma escala mais vasta da política da UE.
B seria "Belief", "acreditar". Os facilitadores do URBACT que tenho conhecido ao longo dos anos acreditam realmente que estes projetos vão fazer a diferença: "Pode ir para casa com as ideias deste workshop e pode desenvolvê-las pela manhã!"
"A" seria para "Ação". Quando as pessoas participam num projeto ou num workshop URBACT, estão a trabalhar arduamente na resolução de um problema. Regressam à sua cidade natal com novas ideias, visão, competências de colaboração... que aplicam a projetos locais. O URBACT tem uma metodologia fantástica para fazer isto.
"C" para "Colaboração". Com o Comité das Regiões realizei workshops em toda a UE sobre diferentes temas, desde a Agenda Urbana ao mercado único digital... Algumas cidades são ótimas a colaborar e outras não. Não é fácil reunir as pessoas em volta de uma mesa e de repente dizer "conversem!": é preciso metodologia. O URBACT leva as pessoas a ouvir e a aprender umas com as outras.
"T" pode ser para "kits de ferramentas" - dos quais eu sou um grande fã. Todos os projetos e kits de ferramentas URBACT podem ser encontrados online em urbact.eu. Várias autoridades locais não percebem isto.
Recentemente, participei num debate na minha própria câmara sobre espaços urbanos abandonados, procurando ideias sobre como recuperar locais abandonados: Citei um documento URBACT e foi publicado no jornal local.
Sou apaixonado pela minha cidade, mas descobri que existem outras "Cork" por aí, cidades secundárias cheias de ambição e de ideias. A maioria das cidades está a tentar fazer algum tipo de renovação no interior da cidade, tentando arranjar soluções a nível dos transportes, elaborar um plano de adaptação às alterações climáticas, envolver mais os cidadãos... E todos nós fazemos as mesmas perguntas: com quem podemos colaborar? Onde podemos obter ideias?
Não temos de fazer as coisas sozinhos: podemos aprender uns com os outros! Depois de se envolver num projeto URBACT, mal poderá esperar para se envolver no projeto seguinte!
AL - Muitas cidades continuam a aplicar as competências adquiridas através da participação no programa URBACT em programas de maior dimensão. Conseguiu ver o URBACT a gerar melhorias de âmbito mais lato a nível do desenvolvimento urbano na UE?
KMC - O URBACT é uma flecha entre muitas flechas, todas a fazer avançar o pensamento nas cidades e regiões, "comunicando a Europa". O Comité das Regiões tem kits de ferramentas e análises sobre diversos temas, desde a bioeconomia às TI... Também há a Capital Europeia da Cultura, o Interreg, o Horizonte 2020, a Semana Europeia das Cidades e das Regiões, consultores locais... É um esforço conjunto.
AL - Foi nomeado para o Comité das Regiões em 2015. Como foi dar o salto para o nível da UE?
KMC - Tem sido uma curva de aprendizagem muito acentuada. Isto mudou completamente a minha vida – de repente, passamos da assembleia local para o hemiciclo do Parlamento Europeu! Todos têm o seu minuto para falar e influenciar as políticas. Precisei de algum tempo para participar nos debates e compreender o jargão europeu.
Recentemente, em Bucareste, para uma discussão informal com os ministros da UE sobre a Agenda Urbana, dez minutos antes da reunião, estava ao telefone a tentar resolver um problema, saí do táxi e cumprimentava o vice-primeiro-ministro da Roménia!
Ainda estou impressionado com as diferentes perspetivas que o Comité das Regiões traz. E os problemas que manifestam são os mesmos do meu país – apercebemo-nos "eu sei isso!". Isto é o positivo do Comité das Regiões, dar voz aos representantes locais e regionais. Penso que a Aliança de Coesão funcionou.
AL - Qual foi o seu papel como relator do CoR na Agenda Urbana para a UE?
KMC - Fiz uma avaliação à implementação da Agenda Urbana para a UE no ano passado. Observei, ainda, como poderíamos unir alguns dos planos de ação: habitação, ambiente...
O meu papel é garantir que os planos de ação são atendidos. 12 planos de ação surgiram das parcerias, 12 ações em cada um; então, como é que implementamos realmente essas 140 ações? Em Bucareste (RO), falei em nome do Comité das Regiões sobre o caminho da Agenda Urbana. Há um grande medo de que alguns dos planos de ação acabem na prateleira. Por isso, estou a pedir financiamento extra para a implementação e para que as vozes dos coordenadores da parceria sejam muito mais ouvidas .
Os chefes de delegação dos Estados-Membros mostraram-se favoráveis no que concerne à declaração de Bucareste - isso foi ótimo. E a presidência alemã quer promover esta Agenda Urbana para a UE, limpando o pó à Carta de Leipzig sobre assuntos urbanos de há 10 anos!
AL - Como é que vê o URBACT a contribuir para estas mudanças nas cidades da UE?
KMC - Nos últimos 10 anos, vimos cidades e regiões seguir em frente – há muito mais colaboração – e acho que o URBACT está no centro deste debate.
Talvez haja uma crise política a nível do governo central, mas o que realmente descobri no Comité das Regiões é que as cidades da Europa estão ansiosas por trabalhar juntas, aprender mais e há uma evolução silenciosa e fervilhante rumo a mais mudanças lideradas pelos cidadãos. Acho que o URBACT ajuda nesta evolução. As pessoas podem simplesmente abrir os arquivos URBACT e ver como a colaboração funciona. Não é fácil, mas é realmente importante.
Já vi isto na minha própria cidade. O Playful Paradigm junta diferentes departamentos da cidade, mas também cidadãos. Na marina de Cork, foram criados jogos gigantes Connect 4, jogos de corda ... Está a capacitar as associações de residentes locais, chegando à população local – o que nem sempre acontece em projetos europeus em larga escala. Os pareceres do Comité das Regiões são fronteiras de ideias, são sobre conexões, parcerias, diálogo, unidade, diversidade, interoperabilidade transfronteiriça... mas não podemos simplesmente falar sobre estes chavões: necessitamos de projetos concretos, plataformas de troca de conhecimento.
A colaboração gera mais colaboração – mesmo em projetos menores, como a abertura de um pequeno parque na rua. Quando as pessoas se divertem a trabalhar umas com as outras, voltam a trabalhar juntas. A minha cidade é relativamente pequena, 210 mil habitantes, então, as pessoas de projetos de Cidades Saudáveis, programas de ação relacionado com a idade, programas de refugiados, Câmara de Comércio, associações empresariais... todos se conhecem, mas talvez não tenham trabalhado uma com as outras antes. O URBACT é interdisciplinar, reúne pessoas, promove a inovação dos cidadãos – e faz-nos descobrir uma corrente elétrica na cidade, uma energia!
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Mais sobre Kieran McCarthy em kieranmccarthy.ie
Saiba mais sobre a Carta de Leipzig e como o URBACT está a atualizar os princípios da política urbana da Europa aqui.
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Texto da autoria de Amy Labarrière, apresentado a 19 de setembro de 2019
Submitted by Ana Resende on