Rumores ou realidade?
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15 October 2019A perita principal do programa, Ruth Essex, partilha a sua visão sobre a promoção da coesão social e o combate à natureza dos rumores – ideias da sua experiência na Amadora, Portugal (PT).
"Os imigrantes roubam emprego aos portugueses"
"Os imigrantes vivem de subsídios do Estado"
"As crianças estrangeiras criam problemas nas escolas"
Estes são alguns dos rumores que circulam na Amadora... comentários frequentemente ouvidos em várias cidades da Europa.
De facto, a imigração continua a ser uma das principais questões políticas na Europa. Nos últimos anos, os fluxos migratórios excecionais aliados à crise económica global inflamaram o extremismo político e levaram ao aumento da desconfiança das comunidades locais em relação às populações migrantes - tanto às já estabelecidas como às novas. Os eleitores de vários países consideram a imigração um dos maiores desafios colocados ao seu país e os partidos políticos de "extrema direita" que se opõem à imigração continuam a encontrar apoio em diversos países.
A Amadora, um concelho dinâmico e multicultural situado no norte da área metropolitana de Lisboa, decidiu que era hora de fazer alguma coisa em relação a estes rumores infundados. Uma rede local de cidadãos e de organizações decidiu espalhar mensagens mais positivas e factualmente precisas a respeito da cidade e dos seus habitantes.
Não Alimente o Rumor foi a campanha de comunicação e o programa de atividades de integração desenvolvido e implementado pela Amadora em 2014/15, através da participação no projeto do Conselho da Europa (CdE) "Comunicação para a Integração: rede social para a diversidade (C4I)" – uma rede de 11 cidades de sete países europeus. Com base em práticas originalmente desenvolvidas em Barcelona, a Amadora produziu a sua própria abordagem personalizada e holística a uma estratégia antirrumores. Esta abordagem responde, de forma direta e assertiva, ao problema do preconceito e da desinformação através da dissipação de rumores e da desconstrução de estereótipos. Salientando, igualmente, o potencial e as vantagens da diversidade cultural, tanto na promoção da inclusão como no reforço da coesão comunitária.
A Amadora começou por realizar um processo de recolha de informação local para apurar quais eram os rumores mais comuns espalhados e de compilação de informação factual (contrarrumores). Com base nesta investigação, desenvolveu uma estratégia antirrumores composta por uma campanha de comunicação viral com uma forte identidade visual, ações públicas, discussões comunitárias, workshops de arte participativa e teatro e um programa destinado às escolas. Vinte e oito pessoas participarem numa ação de formação especializada para se tornarem "agentes antirrumores" e assumiram o papel de defensores do programa, convertendo-se em formadores nas suas próprias organizações, transferindo conhecimento e competências para as comunidades locais, tendo-se simultaneamente integrado no programa uma avaliação de mudança de perceção com vista a medir a eficácia das atividades.
Tudo isto teve por base a criação de uma forte rede local e de um processo de coprodução com partes interessadas a nível local ativas no planeamento e implementação da campanha. O projeto na Amadora envolveu 75 organizações e cerca de 2500 pessoas, tendo a participação local e o apoio político sido essenciais para o sucesso da campanha.
De acordo com Carla Tavares, presidente da Câmara da Amadora, "trata-se de um projeto que se pretende que possa continuar de forma natural e informal por toda a cidade. Todos nós – autoridades locais, associações e cidadãos – temos algum trabalho pela frente para desmistificar os muitos rumores que ainda subsistem na nossa sociedade."
"As comunidades escolares, as associações e os grupos do nosso município estão agora mais sensibilizados para a diversidade e a individualidade de cada um de nós. Mesmo que as pessoas de fora não vejam a Amadora de forma diferente, pelo menos quem aqui está tem orgulho na cidade e apercebe-se de que a diferença que aqui temos é o que nos distingue e o que nos distingue de forma positiva. Portanto, neste sentido, a campanha foi um catalisador para uma nova abordagem à interculturalidade."
"Não Alimente o Rumor" foi reconhecida pelo URBACT como uma boa prática e a Amadora está entusiasmada com a ideia de partilhar experiências, ideias e a paixão por esta prática com outras cidades europeias através da rede de transferência URBACT, RUMOURLESS CITIES – uma parceria entre sete cidades: Amadora (PT) (Parceiro líder), Cardiff (UK), Hamburg-Altona (DE) , Varsóvia (PL), Alba Iulia (RO), Ioaninna (GR) e Messina (IT). RUMOURLESS CITIES é uma das 25 redes de transferência aprovadas pelo URBACT para apoiar a compreensão, adaptação e reutilização de boas práticas de cidades de toda a Europa através de um processo de apoio dos parceiros e de reforço das capacidades.
De acordo com Dina Moreira, gestora do programa "Não Alimente o Rumor", "a Amadora teve uma experiência muito bem-sucedida com resultados positivos. É por isso com enorme satisfação que queremos aproveitar esta oportunidade para continuar a partilha com outras cidades que enfrentam desafios e problemas semelhantes e, ao mesmo tempo, desenvolver e melhorar o que fazemos no nosso território." De facto, pretendia-se que o programa C4I tivesse como resultado novas parcerias e redes de transferência onde as cidades participantes partilhassem estratégias antirrumores, o que se vem concretizando através das RUMOURLESS CITIES.
Enquanto a Amadora se concentrou no combate aos rumores sobre imigração e imigrantes, esta rede irá ver a abordagem adaptada e reutilizada para combater atitudes negativas existentes e crescentes em relação a um vasto leque de grupos da sociedade, incluindo migrantes estabelecidos (nacionais de países terceiros), a etnia Roma, refugiados recém-chegados, pessoas LGBT e os estereótipos homofóbicos em geral.
Além de aprender e adaptar as práticas da Amadora, as cidades parceiras trarão as suas próprias abordagens e inovação para a atividade antirrumores. Por exemplo, Varsóvia tem como objetivo desenvolver uma aplicação e um jogo municipal centrado no combate ao preconceito e Cardiff pretende associar a campanha de combate aos rumores ao desenvolvimento de uma narrativa nova e inclusiva para a cidade. De facto, todos os parceiros contribuem com os seus próprios contextos singulares, conhecimentos e iniciativas para esta rede, de modo a criar uma rede de partilha de experiências e ideias.
RUMOURLESS CITIES irá criar um vasto programa de aprendizagem e partilha para que as cidades aprendam com as boas práticas da iniciativa "Não Alimente o Rumor" e, por conseguinte, abordem alguns dos desafios urgentes que se colocam às cidades relativamente à coesão, inclusão e aumento de notícias falsas, de modo a responder a alguns dos maiores desafios da nossa época:
- Como construir cidades coesas e abertas
- Como combater os falsos estereótipos que levam a caricaturas racistas e ao crescimento dos grupos de extrema direita
- Como equilibrar as necessidades de quem acaba de chegar com as dos cidadãos "nativos" que vivem dificuldades
- Como comunicar a verdade num contexto "pós-verdade" gerado pelos meios de comunicação social mais populares
Apesar da legislação europeia antidiscriminação estar entre as mais extensas do mundo, as conclusões do Relatório sobre os Direitos Fundamentais da UE (2018) confirmam que as diversas formas de discriminação e tratamento desigual continuam a ser uma realidade em domínios fundamentais da vida da UE. A discriminação com base na origem étnica continua a ser vista como a forma de discriminação mais disseminada na UE (64%), seguida pela discriminação com base na orientação sexual (58%), identidade de género (56%), religião ou crença (50%), deficiência (50%), idade (ter mais de 55 anos, 42%) e sexo (37%).
De acordo com o Inquérito Eurobarómetro (2016), os europeus consideram a imigração como o segundo maior problema da UE, a seguir ao terrorismo. Uma sondagem da YouGov em 2016 mostrou que 52% dos italianos, 47% dos franceses, 44% dos alemães e 38% dos espanhóis concordam que o seu país "já não parece a sua casa". A maioria dos belgas, franceses, alemães e italianos apoia a ideia de pôr fim à imigração por completo, nomeadamente com origem nos países muçulmanos.
A questão da coesão comunitária tornou-se um tema quente não apenas pelo acentuado aumento do número de migrantes, mas por estar também associado a crescentes preocupações com a segurança, o que, por sua vez, está associado a um aumento do extremismo. Tendo em conta os elevados níveis de migração laboral para vários países da Europa Ocidental, bem como a pressão para a aceitação de refugiados e de requerentes de asilo provenientes de zonas de guerra em todo o mundo e dos impactos futuros da migração induzida pelas alterações climáticas, é improvável que este tópico perca importância no futuro próximo.
É mais importante do que nunca que as cidades unam forças para olhar para além dos seus próprios limites de forma a encontrar soluções pensadas para estes problemas difíceis e trabalharem em conjunto em prol da manutenção de sociedades pacíficas e abertas.
Mais informação e recursos sobre estratégia antirrumores aqui.
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Texto da autoria de Ruth Essex, apresentado a 28 de março de 2019
Submitted by Ana Resende on