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Making Spend Matter: fazer com que a despesa importe

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21 March 2019
Read time: 5 minutes

Em vez de procurar atrair riqueza através do investimento interno, começámos a pensar sobre a riqueza que já temos à nossa disposição e em aumentar e aproveitar essa riqueza para benefício das nossas comunidades”, vereador Brown, Preston (Reino Unido)

Matthew Jackson, especialista da rede Making Spend Matter conversa com as principais figuras da Câmara Municipal de Preston com o objetivo de descobrir o modo como as aquisições públicas funcionam em Lancashire.

A rede Making Spend Matter arrancou em abril de 2018. Centrada na questão das aquisições, a rede visa transferir uma metodologia através da qual as cidades possam compreender o impacto dos seus gastos com aquisições e, subsequentemente, influenciar a forma como as decisões de aquisições são tomadas.

Preston tem vindo a realizar “análises de gastos” desde 2013 como parte de um projeto mais amplo designado “Community Wealth Building” (construção de património comunitário). Para saber mais sobre as boas práticas, a metodologia e as expectativas da rede Making Spend Matter, falamos com três pessoas-chave da Câmara Municipal de Preston:

  • O vereador Matthew Brown: líder da Câmara Municipal de Preston e o visionário por trás do projeto Community Wealth Building;
  • Andrew Ridehalgh: gestor de aquisições da Câmara Municipal de Preston e responsável pela gestão da política, estratégia e práticas associadas com o processo de aquisições; e
  • Tamar Reay: coordenador chefe da rede Making Spend Matter e responsável pela revitalização económica na Câmara Municipal de Preston.

O que são aquisições e por que razão são importantes?

A conversa começou com uma questão em torno do que são aquisições e por que razão são importantes. Andrew descreveu as aquisições como sendo as compras que fazemos todos os dias como consumidores: "Os contratos públicos são o processo que utilizamos no governo local para comprar bens, serviços e empreitadas. À semelhança dos consumidores, tomamos decisões com base no preço, qualidade, valores individuais e marca. No entanto, o processo é muito mais complexo – somos regidos por legislação e o processo é frequentemente visto como muito burocrático, técnico e maçador.

Andrew afirmou que a Câmara Municipal de Preston tinha começado a pensar de forma diferente sobre as aquisições em 2011, como parte de um projeto muito mais amplo concebido para desenvolver uma nova abordagem ao desenvolvimento económico: "Queríamos remover alguma da burocracia associada às aquisições e fazer com que fosse mais fácil para as pequenas empresas apresentar propostas no âmbito de concursos com vista à obtenção de contratos. Também queríamos que os nossos gastos com aquisições proporcionassem o máximo benefício para a nossa economia local e os nossos residentes, promovendo, deste modo, a resolução de desafios sociais e ambientais.

O calendário dos trabalhos foi importante tanto de uma perspetiva global como local. Conforme explicou o Vereador Brown, Preston tinha sido gravemente afetada pela crise financeira do final da década de 2000 e a abordagem à revitalização económica que o Reino Unido tinha utilizado ao longo dos últimos quarenta anos: "Como parte da nossa abordagem ao investimento interno, estávamos à espera que um grande investidor viesse para Preston e construísse novas instalações destinadas ao retalho, com a subsequente criação de empregos e outras oportunidades económicas. O investidor recuou à última hora e ficámos com uma cidade com uma crescente desigualdade e um número cada vez maior de pessoas a viver na pobreza.

O que é a "Community Wealth Building” e onde é que as aquisições se encaixam?

O vereador Brown percebeu que o modelo económico global e a abordagem trickle-down ao desenvolvimento económico não estavam a funcionar para a economia de Preston e seus residentes. Animado por uma mudança na liderança política, a Câmara Municipal de Preston começou a pensar de forma diferente sobre a riqueza: "Em vez de procurar atrair riqueza através do investimento interno, começámos a pensar sobre a riqueza que já temos à nossa disposição e em aumentar e aproveitar essa riqueza para o benefício das nossas comunidades.”

Há muita riqueza aqui, grande parte dela propriedade de grandes "instituições âncora” do setor público, privado e social. Tamar explicou que estas instituições eram importantes para as economias locais por cinco motivos: "Gastam muito dinheiro a comprar bens e serviços através de aquisições; criam e mantêm muitos empregos; possuem muitos terrenos e ativos; têm, muitas vezes, um mandato democrático; e é improvável que deixem este lugar".

As "instituições âncora” foram, portanto, vistas como uma componente essencial de Community Wealth Building em Preston. No entanto, como Andrew explicou, a fim de se aproveitar o seu potencial como parte de uma visão mais ampla, era necessário um entendimento quanto ao seu impacto: "Sabíamos que as "instituições âncora” em Preston tinham gasto mais de mil milhões de euros na compra de bens, serviços e empreitadas através de aquisições; nós só não sabíamos para onde foi esse dinheiro, nem o impacto que tinha sobre a nossa economia local e os nosso residentes. Queríamos compreender isso, para que coletivamente pudéssemos mudar os processos e as práticas para aproveitar o potencial das instituições“.

O que é uma "análise de gastos” e como é utilizada para mudar as políticas e as práticas?

A "análise de gastos” é a metodologia que a Câmara Municipal de Preston e outras seis instituições âncora começaram a utilizar em 2013 para criar uma base de conhecimentos e compreender para onde vai a despesa de aquisições. Conforme explicou o Vereador Brown, este foi um importante ponto de partida para a mudança de política: "Começámos a trabalhar com o grupo de reflexão, o Centro de Estratégias para a Economia Local (CEEL) para medir o gasto de aquisições das nossas "instituições âncora”. O CEELS tinha realizado trabalho similar em Manchester e quisemos compreender particularmente o impacto que as nossas "instituições âncora” tiveram sobre a economia de Preston”.

A "análise de gastos” avalia a despesa de aquisições da "instituição âncora” durante um período definido, muitas vezes um exercício financeiro. Andrew explicou que a análise foi realizada em Preston inicialmente para o exercício financeiro de 2012/13: "Avaliámos para onde foram mais de 800 milhões de euros de despesas de aquisições. Analisámos o quanto foi gasto com fornecedores com base nas economias locais de Preston (5%) e Lancashire (39%); examinámos o quanto foi gasto com fornecedores em setores industriais específicos, como a construção; e observámos quanto foi gasto com Pequenas e Médias Empresas (PME)".

A "análise de gastos” deu a Preston uma base de conhecimentos através da qual lhe foi possível adaptar processos e práticas de aquisições e aproveitar mais eficazmente a riqueza. Tamar explicou que foram empreendidas uma série de atividades nos últimos cinco anos para incentivar essa mudança: "Desenvolvemos uma visão comum de instituição âncora para as economias de Preston e Lancashire; também criámos uma base de dados de organizações sedeadas em Preston que podem potencialmente apresentar propostas no âmbito de concursos com vista à obtenção de contratos; e criámos um grupo, onde os profissionais de aquisições podem trabalhar em conjunto para mudar os processos de aquisições.

Qual foi o impacto e o que é para transferir?

Em 2017, as "instituições âncora” realizaram novamente uma "análise de gastos” para o exercício de 2016/17 de modo a avaliar em que medida é que o seu impacto tinha mudado. Como explica o vereador Brown, a mudança foi significativa: "Apesar das reduções no montante total a ser gasto na compra de bens, serviços e empreitadas através de aquisições, a proporção gasta com fornecedores sedeados em Preston aumentou de 5% para 18% e a proporção gasta com fornecedores sedeados em Lancashire aumentou de 39% para 79%".

Making Spend Matter visa, portanto, transferir a metodologia da "análise de gastos” para outras cidades e suas "instituições âncora” como seu principal objetivo. No entanto, conforme Andrew referiu, o processo de "análise de gastos” é muito mais do que uma ferramenta analítica: "A "análise de gastos” permitiu-nos desenvolver uma base de conhecimentos, mas também nos permitiu trabalhar em conjunto de forma mais eficaz de modo a desenvolver uma visão comum para compreender a base de negócios de Preston e, sobretudo, mudar a cultura de aquisições".

Há, portanto, três coisas a transferir através da rede Making Spend Matter:

  • uma metodologia na forma de "análise de gastos”;
  • uma forma de desenvolver parcerias e cooperação entre "instituições âncora”;
  • uma forma de permitir a mudança económica, social e ambiental local através do processo de aquisições.

Quais são as aspirações da rede Making Spend Matter?

Mudar o processo de contratação pública não é tarefa fácil. As autoridades públicas devem cumprir devidamente com a legislação, tomar decisões com base no custo e na qualidade e de garantir que o processo seja competitivo e sólido. No entanto, estes também são momentos oportunos para utilizar a aquisição como um mecanismo ou alavanca para abordar desafios económicos, sociais e ambientais mais amplos em toda a Europa.

Preston e outras cidades em toda a Europa estão a começar a mudar a forma como abordam as aquisições, mas como Tamar explica, isto deve ser feito tendo em atenção um conjunto de fatores:

  • É necessária uma sólida base de conhecimentos com vista a mudar a prática de aquisições - as cidades têm que compreender a sua situação atual;
  • É preciso garantir que a mudança nas aquisições é estratégica – esta tem que estar associada às prioridades políticas mais amplas que a sua cidade procura alcançar;
  • A mudança nas aquisições requer grandes alterações na cultura e comportamento e tem que ser encarada de forma realista, pois demora tempo - Preston tem estado a trabalhar nisto há mais de cinco anos

Por conseguinte, estes fatores de conhecimento, tempo, estratégia e realismo enquadram as aspirações da rede Making Spend Matter. Como perito de rede para a fase 1, quero ver as nossas seis cidades parceiras a aprenderem sobre as boas práticas, a aplicarem-nas aos seus próprios contextos, a coproduzir um método de transferência que funcione para eles, a nível transnacional e local, e a terem aspirações quanto à forma como podem potencialmente alterar o processo de contratação pública.

Uma palavra final do vereador Brown: "Através do envolvimento com instituições âncora, a análise de gastos e mudanças nas aquisições, estamos a alterar profundamente em Preston a nossa abordagem ao desenvolvimento económico e, simultaneamente, a melhorar a nossa economia e a mudar vidas. Esperamos que, através da rede Making Spend Matter possamos continuar a evoluir e, mais importante, contribuir para a mudança de cultura nas nossas cidades parceiras.”

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Texto da autoria de Matthew Jackson, apresentado a 23 de outubro de 2018