Entrevista a José Sequeira | projeto InFocus | CM Porto | setembro 2016
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17 October 2016Esta é a primeira de uma série de entrevistas que o NUP_PT está a fazer a técnicos envolvidos em parcerias URBACT. Escolhemos para o efeito o José Sequeira, pela experiência acumulada de anteriores projetos no âmbito do URBACT II e, ainda, por ser atualmente cocoordenador do projeto In Focus, a par da Professora Ana Teresa Lehmann, bem como coordenador do respetivo Grupo de Ação Local (GAL).
José Sequeira é economista, trabalhou durante mais de 7 anos na Porto Vivo, SRU e está presentemente ligado à InvestPorto, a Divisão Municipal de Desenvolvimento Económico e Atração de Investimento da Câmara Municipal do Porto.
José: como foi a sua experiência de trabalho nos projetos URBACT em que esteve envolvido quando integrava as equipas da Porto Vivo, SRU?
Eu integrei as equipas da rede JESSICA for Cities, da 1ª fase de candidaturas (2008-2010) e da rede CSI Europe, da 3ª fase de candidaturas (2012-2015). Posso dizer que senti uma grande diferença entre as duas “calls”, com uma notável melhoria nas ferramentas e formas de trabalho na última candidatura. Aliás, no caso da 1ª “call”, não se constituiu um GAL e, no fim do projeto, não se elaborou verdadeiramente um Plano de Ação Local (PAL). A parceria elaborou um relatório geral referente às contribuições dos vários parceiros.
Já no caso da rede CSI Europe, liderada pela cidade de Manchester, a experiência foi fantástica e os “outputs” finais espelham bem a grande qualidade do trabalho desenvolvido. O GAL constituído no âmbito deste projeto reunia com muita frequência, produzia relatórios regulares que depois difundia pelos outros parceiros da rede.
Ainda enquanto técnico da Porto Vivo, SRU estive envolvido no arranque do projeto Second Chance, o qual se encontra atualmente em desenvolvimento, um projeto muito interessante também e que muito me motivou.
Entretanto, há alguns meses, o José foi desafiado para integrar a equipa de uma outra rede APN (Action Planning Network), a InFocus, desafio esse que aceitou.
Sim, o convite partiu da Professora Ana Teresa Lehmann, pessoa que conheço bem e por quem tenho grande apreço, e que se encontra a liderar a InvestPorto. Sendo o objeto desta rede de natureza muito diferente daquelas em que tinha estado anteriormente envolvido, encarei o convite como um desafio e uma oportunidade de mudança.
Até então tinha estado ligado à problemática da reabilitação urbana e o novo projeto foca-se num tema muito atual e interessante, a adequação da estratégia de especialização inteligente de nível regional ao nível urbano. De um modo resumido, o InFocus pretende adequar a RIS3 (Research and Innovation Strategies for Smart Specialisation), desenvolvida a nível regional para o atual ciclo programático europeu, à estrutura da cidade do Porto.
O projeto incide em 4 áreas principais: desenvolvimento de clusters, talento empreendedor, novos espaços de trabalho e marketing territorial; no caso do Porto, estamos interessados em desenvolver a política de clusters, ainda que associados a este vetor consideremos todos os restantes.
O modelo de constituição do GAL está definido, o grupo nuclear abrange um conjunto alargado de departamentos camarários. A este grupo queremos agregar um número significativo de entidades de vários setores produtivos, instituições do ensino superior e alguns serviços da administração pública.
Ao fim destes anos de experiência URBACT e de participação nalgumas redes, consegue identificar algumas cidades mais inspiradoras?
Só posso responder relativamente aquelas com que trabalhei de um modo próximo. Dentro destas, sem dúvida que a cidade de Manchester, parceiro líder da rede CSI Europe, conjuntamente com o seu perito, marcaram-me fortemente. A equipa do projeto era muito dedicada, a coordenação excelente, a orientação temática e a comunicação perfeitamente definidas. Como consequência tivemos, como disse anteriormente, “outputs” bastante interessantes. Posso também salientar, no âmbito desta rede, o papel da cidade de Haia, a qual desenvolveu um trabalho excelente.
Na fase de início do projeto Second Chance, gostei particularmente do forte empenhamento da cidade de Nápoles e do seu coordenador inicial, Arq. Gaetano Mollura, que entretanto se aposentou e entregou o trabalho ao Eng. Nicola Masella, projeto esse acompanhado pelo perito Nils Scheffler. Estou confiante que toda a equipa que constitui este projeto e que tive ocasião de conhecer, fará um excelente trabalho na reativação de espaços abandonados das cidades, sendo este o enfoque deste projeto.
Queria colocar-lhe uma última questão. O José participou na URBACT Summer University (USU), em agosto passado, e num papel especial, o de facilitador de um ULG (URBACT Local Group). Como foi essa experiência e quais as impressões gerais sobre a USU?
Eu já tinha participado na USU de 2013, em Dublin. A experiência tinha sido muito positiva e, portanto, tinha grandes expetativas para a USU de Roterdão. No entanto, achei que a organização dos tempos de trabalho em Dublin foi mais equilibrada. O programa deste ano foi muito intenso, senti mais pressão na realização das atividades.
Quanto ao papel de facilitador, não foi fácil de início. Nenhum dos colegas presentes no meu ULG tinha tido contacto com o método URBACT e alguns deles tinham dificuldade em falar inglês. Tentei uma solução que acabou por resultar: subdividi o grupo em conjuntos ainda mais pequenos (2/3 pessoas), trabalhei com cada um deles, e com o decorrer das sessões os participantes conseguiram integrar-se e “apanhar” o espírito da formação. Aliás, o mais importante não eram os “outputs”, mas sim a utilização da metodologia e isso penso que no final todos concordaram que conseguiram levar com eles na bagagem de regresso às suas cidades.
De qualquer modo, posso testemunhar que foi um desafio complexo, exigente, que me deu alguma preocupação pelo papel que desempenhei, embora considere que tenha sido muito gratificante e muito motivador para o trabalho que se avizinha.
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