Construir uma cidade amiga do envelhecimento

SÍNTESE

A evolução demográfica é um dos principais desafios da sociedade com que todas as cidades se debatem. A população idosa está a aumentar gradualmente e as cidades esforçam-se por se adaptar às suas necessidades. Ciente da necessidade de se preparar para esta mudança, a cidade de Badalona demonstrou que é possível reformular os serviços de saúde e assistência social locais para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Através de várias iniciativas e projetos que têm vindo a ser lançados desde 2012, Badalona procura colocar o cidadão no centro dos cuidados continuados, através de ações que incluem processos de integração vertical (entre os diferentes níveis de prestação de cuidados) e integração horizontal (entre os diferentes serviços locais, como os serviços sociais, de emprego e de apoio à habitação, por exemplo). Estas ações permitiram melhorar a qualidade dos cuidados prestados e garantir uma melhor articulação entre os diferentes serviços do Estado.

SOLUÇÕES PROPOSTAS POR ESTA BOA PRÁTICA

Esta boa prática adotada pela cidade de Badalona integra um conjunto de soluções interligadas e todas elas integradas numa abordagem holística em prol do envelhecimento ativo e saudável, na qual participam todas as partes relevantes num ecossistema inovador.

A prática está totalmente alinhada com as instâncias de governação, os prestadores de cuidados, o setor empresarial, o meio académico e centros de I&D e a sociedade civil através de um processo participativo que permite uma definição comum e uma reformulação da estratégia global. Esta boa prática comporta essencialmente quatro ações distintas:

• Projeto "Badalona, rumo a uma cidade saudável": um projeto municipal destinado a fomentar e promover hábitos saudáveis entre os cidadãos, bem como a prevenir doenças através de uma abordagem claramente participativa e uma estrutura em rede;
• Criação de uma cátedra de I&D pelo serviço de saúde municipal de Badalona (BSA) e a Universidade Aberta da Catalunha (UOC): uma iniciativa que visa desenvolver a investigação e a inovação nas áreas da saúde e da assistência social, com recurso às TIC;
• Badalona como Sítio de Referência Europeu na área do Envelhecimento Ativo e Saudável: em que 24 intervenientes, que cobrem a quádrupla hélice da inovação na cidade de Badalona, foram reconhecidos pela Comissão Europeia e trabalham de forma coordenada em torno do objetivo comum de desenvolver uma cidade amiga do envelhecimento;
• Observatório da Saúde de Badalona: a recolha e compilação de dados ambientais, demográficos, sociais e clínicos para identificar padrões e fatores determinantes para uma vida saudável em meio urbano.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E INTEGRADO

O envelhecimento ativo e saudável deve ser visto como uma forma de otimizar as oportunidades, a participação e a proteção das pessoas, no que à saúde diz respeito, ao longo do seu envelhecimento. Estamos a caminhar de um modelo conceptual de cuidados de saúde, em que cada cidadão é considerado individualmente e desempenha um papel passivo no sistema, para um modelo que promove os direitos das pessoas mais idosas, a sua autonomia e a criação de relações sociais.

Os idosos são considerados agentes de mudança, que possuem valores e competências reconhecidamente úteis para a comunidade, sendo o principal objetivo melhorar a sua qualidade de vida. Abordar o desafio do envelhecimento nesta nova perspetiva exige ter em conta aspetos como a autonomia e dependência, a participação, o curso vital da vida, aspetos culturais, as desigualdades (em termos de pobreza e exclusão social) e fatores ambientais.

O projeto desenvolvido em Badalona assenta totalmente numa abordagem sustentável e integrada em todas as dimensões contempladas pelos valores URBACT. Um ecossistema de parceiros abrangendo a quádrupla hélice da inovação trabalha em conjunto (integração vertical) para transformar a cidade num ecossistema urbano amigo do envelhecimento. Esta ação conta com uma cooperação regional e internacional que contribui para melhorar os resultados. As intervenções realizadas através da rede de sítios de referência abrangem dimensões físicas, económicas, sociais e ambientais (integração horizontal).

UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA

Esta boa prática contempla essencialmente a região a norte de Barcelona, onde a população-alvo conta com 545.000 habitantes. Embora a iniciativa seja coordenada pela cidade de Badalona, existem outros municípios que beneficiam desta estratégia holística: Santa Coloma de Gramenet, Sant Adrià de Besòs, Montgat, Tiana, Alella, Teià e Masnou. Isto revela um processo participativo não só a nível local, mas também ao nível de toda a área metropolitana.

Os intervenientes que lideram esta prática colaboram há muitos anos através dos chamados Conselhos de Saúde, geridos pelo serviço municipal de saúde de Badalona, de modo a levar todas as partes interessadas relevantes a nível local a contribuir para definir o modelo de assistência e cuidados de saúde a desenvolver.

Em 2016, este consórcio apresentou a candidatura da cidade para o estatuto de Sítio de Referência Europeu na área do Envelhecimento Ativo e Saudável. Os seus membros cobrem a quádrupla hélice da inovação:

 a) As entidades públicas de cuidados de saúde e assistência social;
 b) O setor empresarial;
 c) O meio académico e os centros de investigação;
 d) A sociedade civil. A cidade foi reconhecida como Sítio de Referência, com a atribuição de 2 estrelas num máximo de 4.

QUE IMPACTO TEVE ESTA BOA PRÁTICA?

Em Badalona, o modelo de prestação de assistência e cuidados de saúde assenta integralmente numa abordagem que proporciona cuidados continuados às pessoas, num processo de integração vertical e horizontal. Uma avaliação interna mostrou que houve uma redução no período médio de internamento, na taxa diária de ocupação de camas e no número de entradas em serviços de urgências. Além disso, o desenvolvimento dos processos assistenciais clínicos integrados permitiu melhorar os resultados, incluindo o cumprimento das orientações e a adesão às mesmas. Estes processos melhoraram o estado funcional e os resultados de saúde entre a população idosa, contribuindo para reduzir os custos operacionais dos serviços clínicos e melhorando ao mesmo tempo a qualidade de vida dos idosos que vivem nos meios urbanos.

Este modelo permitiu também criar novas oportunidades económicas com a entrada em jogo do setor privado através de acordos de colaboração, o que trará novas ideias para o mercado, acordos esses introduzidos primeiro numa fase-piloto antes da sua efetiva entrada em vigor. Relativamente a este tipo de estratégias, podemos referir três bons exemplos:

• O projeto ITHACA (BSA - Novartis - Indra): que visa monitorizar pacientes com hipertensão ao domicílio e inclui um programa de informação;
• O projeto Caring.me (BSA - Arvato/Bertelsmann): uma plataforma na Internet destinada a acompanhar e apoiar pacientes com problemas de depressão através de psicoterapia cognitiva comportamental;
• O projeto AsmaProcare (BSA - IN2): uma aplicação móvel destinada a cuidar de pacientes com asma grave e evitar tanto quanto possível a sua deslocação para consultas.

POR QUE RAZÃO DEVEM ESTAS BOAS PRÁTICAS SER APLICADAS A OUTRAS CIDADES EUROPEIAS?

A importância do projeto desenvolvido em Badalona já foi amplamente demonstrada. Os parceiros envolvidos no ecossistema de Badalona contribuem ativamente para a cooperação europeia e, consequentemente, para a transferibilidade de boas práticas através da sua participação nas estratégias da UE relevantes. A experiência do BSA em projetos cofinanciados pela UE remonta a 2003, quando, na sequência das recomendações relativas ao plano estratégico, esta organização lançou a sua estratégia de I&D vocacionada para soluções tecnológicas destinadas a melhorar os serviços de cuidados prestados à sua população-alvo. Seguindo esta abordagem, o BSA começou a explorar oportunidades para a criação de redes, tanto a nível nacional como internacional.

Desde então, esta organização tem participado em muitos projetos comunitários e diversos programas de financiamento, como os programas promovidos pela DG SANCO na área da saúde AAL JP, FP7, CIP e, mais tarde, o programa H2020. As funções desempenhadas pelas diferentes parcerias incluíram a direção de projetos, a modelização de avaliações e produção de provas, a definição de modelos de prestação de cuidados e a codefinição de processos.

Importa ainda citar dois exemplos de boas práticas sobre a partilha de aprendizagens e experiências com outras regiões a nível internacional:

• O estudo de caso realizado no âmbito do projeto SIMPHS3 pelo Centro Comum de Investigação da CE;

• O ACT Cookbook.

NÚMEROS-CHAVE

Início: 2015
Conclusão: Em curso
Data de atribuição do selo 02/06/2017
Orçamento: 800.000 €/ano

Texto da autoria da equipa de Boas Práticas de Badalona