Como estão as cidades a reagir à COVID-19?
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14 April 2020Num momento em que o impacto da pandemia mudou o nosso modo de vida, as cidades demonstram a sua resiliência.
As cidades estão a intervir com novas maneiras de apoiar a linha da frente dos serviços de saúde, abastecimento de géneros, economia local e bem-estar mental das pessoas. Várias cidades estão a tirar proveito direto da capacitação adquirida durante as suas experiências em redes URBACT, mostrando que os princípios do programa, no âmbito do envolvimento das partes interessadas locais e do intercâmbio transnacional, podem ajudar as cidades a atingir os seus objetivos, mesmo em tempo de crise.
Voluntários em ação em Altea (ES)
Pediu-se a alguns peritos URBACT que referissem exemplos de respostas de cidades que lhes tivessem chamado a atenção. Leia sobre as suas observações e veja também o mapa interactivo, com outros exemplos inspiradores de cidades europeias, que o programa URBACT tem vindo a recolher. Uma análise mais aprofundada irá seguir nas próximas semanas. Fique atento!
Cidades que apoiam trabalhadores da linha da frente dos serviços de saúde
As cidades estão a descobrir novas formas de prestar apoio a hospitais e a profissionais de saúde. “Neste momento, as cidades estão a investir tudo no problema de curto-prazo,” explica Eddy Adams. “O que significa apoiar os médicos, como no Pireu (EL), onde o Blue Lab reprogramou impressoras 3D para produzir escudos faciais protetores para os profissionais de saúde.” Esta iniciativa baseia-se na experiência da cidade em apoiar a inovação local através do concurso “Blue Growth”, reconhecido pelo URBACT como uma boa prática em 2017 e assumindo um papel central na Rede de Transferência URBACT BluAct.
Entretanto, na Hungria, Ivan Tosics salienta que “apesar da crescente centralização do governo dos últimos anos e dos orçamentos locais severamente restringidos, a cidade de Budapeste (HU) reagiu encomendando equipamento médico no estrangeiro, que está a distribuir por instituições de saúde, abrigos para os sem-abrigo e lares de terceira idade. A cidade também assinou acordos com instituições de saúde privadas para que os funcionários em profissões chave para o funcionamento da capital fossem submetidos a testes.”
As soluções lideradas pelos cidadãos também têm sido um aspeto importante da resposta humana à crise afetando os serviços de saúde e as autoridades urbanas ainda podem aprender mais sobre como apoiar e encorajar estas iniciativas. Laura Colini ficou impressionada com a Rede de Transferência URBACT Volunteering Cities – baseada na experiência do Municipal Council of Volunteering (MCV) de Athienou (CY) – que “agora partilha informação sobre como os voluntários estão empenhados, em diferentes cidades, para disponibilizarem produtos de primeira necessidade, fabricando máscaras ou outros materiais necessários.”
Também da Rede Volunteering Cities, um voluntário em Capizzi (IT)
Cidades que apoiam a economia local
Perante o impacto das políticas de lockdown nas atividades económicas das pessoas, muitas autoridades urbanas introduziram rapidamente medidas para o congelamento de rendas e de impostos sobre negócios, ajudando, simultaneamente, empresas locais a terem acesso a apoios. Ivan Tosics faz notar que Budapeste aumentou os salários de funcionários de empresas municipais e introduziu uma moratória relativa ao pagamento de rendas para pequenas e médias empresas que arrendem espaços pertencentes ao município. A autoridade local também disponibilizou gratuitamente, às lojas da cidade, letreiros chamando a atenção sobre a distância correta a manter entre clientes.”
Muitas cidades procuram oportunidades para estender a sua prestação de serviços digitais, incluindo a empresas locais que não conseguem ter acesso ao suporte tradicional nas circunstâncias atuais. Muito antes da pandemia da COVID-19, a rede URBACT TechTown destacou a importância da economia digital e o Digital Media Centre de Barnsley (UK), o Parceiro Líder da rede, foi identificado como uma boa prática URBACT – acabando por se constituir como a base da atual Rede de Transferência URBACT TechRevolution.
Sally Kneeshaw viu como a cidade se baseou nestas experiências para intensificar a sua resposta à crise atual: “Na última semana, o Digital Media Centre de Barnsley voltou-se para os serviços virtuais de apoio a negócios através centros de chat and call, comprometendo-se a providenciar financiamento do programa de subvenções do governo para aqueles que se encontram nos setores mais afetados do retalho, lazer e hotelaria.” A plataforma também disponibiliza dicas e orientação para a utilização do trabalho remoto de modo mais seguro.
Apoiar a economia local também significa apoiar as famílias mais afetadas pela perda de emprego e de rendimentos. Enquanto muitos sistemas nacionais de desemprego estão a ser adaptados em resposta aos desafios específicos atuais, Laura Colini destaca que os intercâmbios entre os parceiros da rede URBACT Volunteering Cities incluíram “conceber ideias e trocar experiências sobre o envolvimento das empresas locais ou indivíduos na oferta de produtos ou na ajuda financeira a famílias necessitadas.”
Cidades que asseguram o fornecimento local de alimentos
Muitos cidadãos europeus estão preocupados com o que se irá passar relativamente ao suprimento de alimentos quando o sistema de produção e distribuição sofrer pressões decorrentes das ameaças à saúde dos trabalhadores e das restrições à circulação. A rede URBACT AGRI-URBAN, já em 2016, abordou formas de melhorar o fornecimento de alimentos produzidos localmente em áreas urbanas. Mouans-Sartoux (FR), cidade parceira desta rede viu a sua iniciativa Collective school catering reconhecida como boa prática URBACT em 2017 e tornou-se Parceiro Líder da rede de transferência BioCanteens em 2018.
Marceline Bonneau tem-se mantido a par da resposta desta cidade à crise atual: “A quinta municipal - que inicialmente produzia fruta e vegetais biológicos para três cantinas escolares que forneciam cerca de mil almoços por dia – diversificou os seus canais de distribuição para ir ao encontro de necessidades mais abrangentes e proteger empregos. Uma parte dos produtos ainda se destinam às cantinas, providenciando alimentação a algumas dúzias de crianças ou profissionais de saúde ou agentes urbanos que ainda têm acesso à escola, outra parte é processada e congelada e ainda outra é direcionada para a mercearia social da cidade.”
As autoridades municipais já estão a pensar sobre como responder aos desafios em curso relativos ao abastecimento de alimentos. “As alfaces brevemente prontas para colheita, que não podem ser congeladas, serão provavelmente oferecidas ao hospital vizinho de Grasse,” continua a Sr.ª Bonneau. Entretanto, a cidade vai explorando maneiras de aumentar a produção nos próximos planos de plantação, de modo a antecipar questões potenciais nas cadeias convencionais de distribuição de alimentos” num futuro próximo.
Como acima referido, Eddy Adams observa que “as cidades estão a investir tudo nos seus problemas a curto prazo.” Em Vic (ES), isto “significa apoiar as comunidades. Esta cidade, Parceiro Líder da rede URBACT Healthy Cities, está a mobilizar vendedores de mercados de alimentos, agora encerrados, para alimentarem indivíduos vulneráveis.” Abordagens direcionadas como esta podem ser cruciais para ultrapassar a lacuna entre fornecimento e procura no contexto de um lockdown.
A quinta municipal de Mouans-Sartoux (FR)
Cidades que apoiam a educação e o bem-estar mental
Os sistemas de educação nacionais debatem-se para se adaptarem rapidamente à situação de confinamento dos estudantes. Mireia Sanabria, Perita Líder da Rede de Transferência URBACT On Board diz-nos que “isto tem mantido alguns dos nossos parceiros – em particular as grandes cidades – ocupados e stressados. O lado positivo é que algumas iniciativas locais estão a aplicar a inovação relacionada com o uso de ferramentas digitais em projetos de educação, o que se assume como um aspeto central da Educational Innovation Network em cuja transferência a rede On Board está a trabalhar
Por exemplo, o Parceiro Líder da rede On Board, Viladecans (ES), desenvolveu uma página web dedicada à escola em casa (School at Home!), que disponibiliza todos os dias novas atividades criativas e educacionais para crianças e famílias. Simultaneamente, na cidade parceira Halmstad (SE), uma escola vocacional está agora a disponibilizar aulas de culinária online. O município distribui cabazes de géneros aos estudantes que preparam as refeições, que são depois fornecidas a pessoas com necessidades especiais.
Para além da educação, Sally Kneeshaw destaca que “estamos todos a aprender, se é que não soubéssemos já, o quanto precisamos da cultura para nos confortar. Adoro que os bibliotecários da Tallinn Central Library estejam a ler livros a pedido, via Skype ou telefone, para as crianças em casa. Entretanto, Zaragoza (ES) lançou o concurso de fotografia #DesdeMiVentana (da minha janela) aberto a pessoas entre os 12 e os 30 anos, tendo como público alvo os jovens que sentem mais dificuldade em ficar em casa.”
Marcelline Bonneau assinala um exemplo diferente na cidade de Mollet del Vallès (ES) que “criou o programa Leisure at home, propondo atividades de lazer aos seus cidadãos que estão impedidos de sair de casa sem uma justificação válida. Lançado na sexta-feira dia 27 de março, qualquer interessado pode disfrutar de uma seleção de atividades, sozinho ou em família. Estas atividades vão desde aulas de exercício físico até exercícios de memória e de aulas de culinária a aulas de robótica. Esta plataforma é atualizada e ampliada regularmente.”
Laura Colini salienta também o trabalho que a Rede de Transferência URBACT ON STAGE - que trabalha no sentido de introduzir novos currículos nas escolas baseados na música e nas artes – está a desenvolver “mantendo as pessoas juntas através da música. Recentemente, partilharam um vídeo com uma atuação de jovens estudantes da escola de #ZsOsmec de Brno (CZ), cidade parceira.” Estas iniciativas lembram-nos da importância de manter a nossa boa disposição nestes tempos de desafios.
Não se esqueça de espreitar o mapa interativo com outros exemplos inspiradores de cidades europeias, que o programa URBACT tem vindo a recolher.
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Texto de URBACT apresentado a 07 de abril de 2020
Submitted by Ana Resende on