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A Biblioteca Humana

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26 September 2017
Read time: 3 minutes

Uma atividade de educação não-formal dirigida a estudantes dos 14 aos 18 anos do município de Valongo cujo slogan é "não julgues um livro pela sua capa".

SÍNTESE

A Biblioteca Humana é uma atividade de educação não-formal criada em Valongo para estudantes dos 14 aos 18 anos que adotou o desafiante slogan "não julgues um livro pela sua capa". Inspirada na boa prática lançada em 2000 no Festival Roskilde na Dinamarca foi adaptada para um público escolar. Esta iniciativa consiste em promover um diálogo informal e construtivo entre estudantes e “Livros Humanos” – pessoas voluntárias que representam grupos frequentemente alvo de preconceitos e estereótipos.

A Biblioteca Humana também é uma oportunidade de promover uma relação interpessoal entre grupos que normalmente não teriam oportunidade de interagir. Permite aos/às participantes desafiar os seus próprios estereótipos e preconceitos num ambiente estruturado e protegido durante um período de tempo limitado. Mais de 4200 jovens participaram nesta iniciativa desde que a Biblioteca Humana de Valongo foi lançada em 2010, tendo o projeto sido alargado a todas as escolas com o 9.º ano (atualmente 8).

SOLUÇÕES PROPOSTAS POR ESTA BOA PRÁTICA

O projeto tem uma componente itinerante, visto que se desloca a várias escolas. O espaço físico é habitualmente a biblioteca da escola.


Antes da sua execução, é realizada uma reunião com o/a docente de referência, durante a qual são explicadas as medidas necessárias para preparar a atividade em cada turma. Após a reunião, cada docente prepara as turmas através de uma discussão sobre os objetivos da iniciativa e prepara um conjunto de perguntas que irão ser colocadas aos livros humanos, a fim de evitar que jovens possam bloquear durante a sua interação com voluntários/as. A par deste trabalho, são contactadas ONG e criadas parcerias. As ONG identificam Livros Humanos, isto é, pessoas voluntárias que irão participar no projeto e representar um estereótipo.

Os Livros Humanos deverão possuir uma experiência pessoal, assim como uma preparação técnica e científica para poder desafiar estereótipos. Para os/as ajudar neste processo, a Câmara Municipal providencia uma formação, ajudando a antecipar dificuldades e enfrentar desafios. No dia em que decorre a atividade, vários livros humanos ficam disponíveis para serem lidos. O/a bibliotecário/a forma subgrupos em cada turma, transmite as instruções e certifica-se de que a atividade é no final avaliada. Cada grupo fala com o livro humano, fazendo-lhe perguntas durante cerca de 20 minutos. No final deste período, os grupos trocam de livro humano e iniciam uma nova leitura. Este processo continua até que cada grupo tenha lido todos os livros.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E INTEGRADO

Todas as pessoas que tentam lançar um projeto destinado a promover o diálogo intercultural são frequentemente confrontadas com o desafio de apresentar uma ideia inovadora, que possa atrair o interesse das pessoas e que faça verdadeiramente a diferença. A Biblioteca Humana é uma abordagem inovadora à questão da igualdade e diversidade, na medida em que pode abranger todo o tipo de estereótipos bem como a discriminação múltipla. Permite, ao mesmo tempo, explorar algumas das questões sensíveis que acompanham a luta contra o preconceito, introduzindo um elemento de diversão e interação que torna o projeto extremamente atrativo quer para organizadores/as, quer para participantes.


Implementada desde 2010, a Biblioteca Humana é uma forma de ajudar os/as jovens a refletir sobre o mundo, a igualdade e a interculturalidade. É também uma excelente oportunidade de desconstruir estereótipos e de consciencializar para a importância da diversidade cultural, a pluralidade democrática e os direitos humanos. Permite ainda partilhar histórias e experiências de vida, contribuir para lutar contra as múltiplas formas de discriminação e sensibilizar os jovens para a importância da diversidade social e dos direitos humanos.

UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA

O projeto Biblioteca Humana contou inicialmente com um grande apoio do Mecanismo Nacional para a Imigração. A sua realização só foi possível graças à participação de diversos agentes: escolas, ONGs (ACAPO – Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, Associação Luso-Africana Pontos Nos Is, ILGA – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero, Associação Intercultural e Inter-religiosa MEDesTu, Liga Portuguesa Contra o Cancro, Centro Hospitalar S. João - que coopera connosco para identificar pessoas com doenças mentais, AMI – Assistência Médica Internacional), assim como voluntários/as (pessoas com capacidade para partilhar a importância dos direitos humanos no processo de construção da democracia e da responsabilidade dos indivíduos enquanto cidadãos na aplicação dos direitos humanos abstratos na vida quotidiana).

Para a execução da atividade, foi criado um ambiente seguro para leitores/as e livros humanos, de modo a que pudessem dialogar de forma aberta e discutir temas delicados que seriam mais difíceis de abordar noutros contextos ou ambientes. Na Biblioteca Humana, estes temas podem, de facto, ser discutidos de forma surpreendentemente mais fácil. Participar num diálogo desta natureza é um raro privilégio que não deixa ninguém indiferente.

QUE IMPACTO TEVE ESTA BOA PRÁTICA?

Os resultados do projeto incluem:

  • A sensibilização para várias questões que contribuem indiretamente para reforçar a competência intercultural;
  • A criação de oportunidades e de formas não tradicionais de fomentar o diálogo intercultural e de desafiar os estereótipos;
  • A disseminação do potencial, das dificuldades e da cultura das comunidades migrantes entre públicos-alvo não tradicionais e diferentes grupos etários;
  • A promoção do diálogo entre diferentes atores organizados e não organizados da sociedade civil em Valongo;
  • A desconstrução de estereótipos sobre a etnia, nacionalidade, orientação sexual, religião, deficiência, etc.;
  • A promoção de questões relacionadas com a interculturalidade na comunidade local, em particular através dos meios de comunicação social;
  • O elevado nível de satisfação dos participantes nos questionários sobre a qualidade da iniciativa (os resultados médios variam de 4,9 a 5 pontos numa escala de 1 a 5, em que 1 corresponde à pontuação mais baixa e 5 representa a pontuação mais alta).

A Biblioteca Humana é considerada pelas comunidades escolares como uma das mais interessantes atividades implementadas nas escolas.

No plano quantitativo, o projeto teve os seguintes resultados:

  • A participação de seis escolas em 2010 e de oito escolas em 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016;
  • A presença de mais de 10 voluntários em cada edição;
  • A participação de mais de 4200 jovens no projeto desde 2010.

POR QUE RAZÃO DEVEM ESTAS BOAS PRÁTICAS SER APLICADAS A OUTRAS CIDADES EUROPEIAS?

Este projeto foi reconhecido pelos esforços desenvolvidos para abordar o problema da discriminação através da desconstrução de estereótipos e da promoção da interculturalidade. Começando com apenas três escolas e 150 alunos, este projeto estende-se agora por oito escolas, abrangendo mais de 800 alunos/as todos os anos e envolvendo pelo menos 10 voluntários/as: um registo impressionante para esta pequena cidade que é também uma nova porta de entrada para imigrantes.

A Biblioteca Humana foi reconhecida pelo Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural como boa prática e está a ser replicada em todo o país em cooperação com várias ONG, como a "Pontos nos Is" e a "Amizade de Leste". A sua metodologia também foi reconhecida como boa prática por diversas entidades:

  • Portal Europeu sobre Integração - 2013, uma iniciativa da Comissão Europeia que destaca pessoas que trabalham na área da integração e promove o intercâmbio de boas práticas;
  • Guia de Boas Práticas na Área Metropolitana do Porto – 2013, um documento que reúne boas práticas reconhecidas como inovadoras e empreendedoras na área social;
  • Associação Internacional das Cidades Educadoras no congresso realizado em Rosário, Argentina, em 2016.

Passível de ser transferida, fácil de implementar e pouco onerosa do ponto de vista orçamental, esta iniciativa foi considerada uma boa prática por muitas instituições.

NÚMEROS-CHAVE

Início: 2010
Conclusão: Em curso
Data de atribuição do selo: 02/06/2017
Orçamento: Baixo orçamento

Texto da autoria da equipa Boas Práticas de Valongo

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