BeePathNet: enriquecer a selva urbana com abelhas
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15 July 2019Klemen Strmšnik partilha o seu entusiasmo pelas ambições ecológicas de Liubliana (Eslovénia) e pelo êxito do projeto BeePathNet que liga seis cidades europeias que procuram promover a apicultura urbana. E deixa uma pergunta: se a sensibilização e o entusiasmo já existem, será que a apicultura se pode tornar parte de um estilo de vida urbano?
Devido à intensa urbanização e ao crescimento económico, as cidades europeias enfrentam o aumento da poluição, a perda de recursos naturais e a diminuição da biodiversidade enquanto as condições de vida dos cidadãos se deterioram e o contacto com a natureza se perde. Conjugado com o forte uso de pesticidas e inseticidas, o número de abelhas e de outros polinizadores selvagens está a diminuir drasticamente. Infelizmente, parece que nos esquecemos que estes prestam um dos mais importantes serviços ecossistémicos para o ciclo de produção alimentar: a polinização.
Por outro lado, a sensibilização para a importância dos produtos alimentares produzidos localmente e de forma ecológica está a aumentar. Cada vez mais pessoas adotam “princípios de vida saudáveis” e procuram ativamente melhores condições de vida com um número cada vez maior a interessar-se por cultivar os seus próprios alimentos - em varandas, jardins ou telhados.
Em Liubliana – a capital da Eslovénia – 290 mil cidadãos e mais de 180 milhões de abelhas não só coexistem como prosperam. Três quartos do seu território estão cobertos por florestas nativas, prados e campos, 20% dos quais classificados como áreas naturais protegidas. Em Liubliana, há mais de 800 explorações agrícolas e 350 apicultores em atividade, mantendo viva a ligação entre o urbano e o rural.
Nos últimos anos, os esforços para melhorar as condições de vida nas zonas urbanas foram reconhecidos e Liubliana ganhou vários importantes prémios – entre os quais se incluem o “Top 100 dos Destinos Sustentáveis do Mundo”, em 2017, o “Município mais amistoso para as abelhas”, em 2017, e o de “Capital Verde Europeia”, em 2016.
Impressionante, não é? Não obstante, para compreender o sucesso da sua “política de desenvolvimento urbano ecológico” temos de olhar para a história recente do desenvolvimento urbano em Liubliana.
Com uma elevada qualidade de vida nos arredores da cidade, o suburbanismo era muito forte nas décadas de 1980 e 1990. À medida que cada vez mais famílias jovens se mudavam para os subúrbios, o centro da cidade e os bairros mais antigos “envelheciam” inevitavelmente, deterioravam-se lentamente e, nalguns casos, degradavam-se. Mas, tal como na natureza, o “velho” tem de dar lugar ao “novo” e Liubliana entrou no novo milénio pronta para uma renovação urbana.
Em busca de novos conceitos de desenvolvimento, a administração municipal e os decisores reconheceram o “caráter verde” de Liubliana como uma vantagem e uma oportunidade. Os cidadãos depressa responderam, apoiando a ideia. Através de uma política chave de desenvolvimento, graças à implementação de uma nova estratégia sustentável designada “Visão 2050” e de um novo Plano de Ordenamento Espacial, a cidade de Liubliana concretizou com êxito a sua renovação urbana. A prova do sucesso chegou em 2014, quando Liubliana recebeu o título de “Capital verde europeia 2016”.
Este foi um sinal claro, para os cidadãos e para a cidade de Liubliana, de que estavam no caminho certo, tendo igualmente fornecido um ambiente propício ao apoio de ideias e projetos de desenvolvimento urbano ecológico mais ousados. Nos anos que se seguiram, a cidade de Liubliana incentivou e apoiou novos conceitos urbanos, incluindo a jardinagem urbana, a silvicultura urbana e a apicultura urbana.
Em 2015, uma funcionária da Câmara de Liubliana, Maruška Markovčič, agora coordenadora do Grupo Local URBACT para o projeto BeePathNet, apresentou a ideia da apicultura urbana. Segundo ela: “O BEE PATH pretendia ser um pequeno projeto para apoiar os apicultores urbanos e explorar novas potencialidades de turismo em Liubliana. Nunca esperei que evoluísse até este nível!” Mas evoluiu e, hoje, o BEE PATH é sinónimo de todas as atividades associadas às abelhas e à apicultura em Liubliana.
Ao longo de dois anos e meio de existência, o projeto evoluiu para se transformar em:
- Uma REDE de parceiros interessados na apicultura urbana – fornecendo uma plataforma de discussão sobre os desafios, procurando soluções e o desenvolvimento de novos produtos numa base voluntária.
- Um PERCURSO TURÍSTICO E EDUCATIVO projetado para ligar os apicultores urbanos a outros pontos de interesse relacionados com as abelhas, apresentando, assim, a importância das abelhas e da apicultura urbana aos visitantes.
- Um PROGRAMA EDUCATIVO destinado a aumentar a sensibilização junto de públicos-alvo.
- Um THINK-TANK e uma INCUBADORA para o desenvolvimento de novas ideias empreendedoras.
Maruška explica: “A lógica por trás do projeto BEE PATH é muito simples – as abelhas vivem num ambiente saudável. Se Liubliana consegue preservar o ambiente natural em zonas urbanas, permitindo que as abelhas e outros polinizadores se desenvolvam, então está no caminho certo para a proteção ambiental, preservando a biodiversidade, assegurando uma elevada qualidade das condições de vida e preservando o potencial de autossuficiência alimentar.”
Mas estas tentativas nunca poderão ser bem-sucedidas se forem desenvolvidas de forma descendente (top-down). Por isso, utilizámos uma abordagem voluntária e ascendente (bottom-up): “Começámos como um pequeno círculo de apicultores, mas mantivemo-nos abertos a todas as partes interessadas. Com o tempo a rede cresceu e hoje abrange instituições educativas e culturais, ONG, empresários, empresas e outras partes interessadas. Não foi fácil, mas foi a forma certa de o fazer!” acrescenta ela prontamente.
Poderia argumentar-se que Liubliana tem condições naturais favoráveis: uma percentagem invulgarmente elevada de zonas verdes e uma longa tradição de apicultura. Contudo, o autor deste artigo está convencido de que as mesmas condições favoráveis existem noutras cidades europeias. Infelizmente, ainda não são reconhecidas pelo seu potencial de desenvolvimento – e é exatamente disto que trata o projeto BeePathNet.
Maruška acrescenta: “Termos recebido o selo de boas práticas URBACT pelo projeto BEE PATH foi realmente importante para nós – provou estarmos no caminho certo, impulsionou o entusiasmo dos membros existentes, atraiu novos membros e elevou a imagem dos apicultores urbanos para um novo nível. É esse o motivo pelo qual vemos o projeto BeePathNet como uma nova oportunidade – não só para transferir as boas práticas para outras cidades, mas também para explorar as potencialidades da sua atualização com os nossos parceiros”.
Com o objetivo de replicar o sucesso e transferir as boas práticas, a parceria BeePathNet liga agora seis cidades da UE – Liubliana, como parceiro líder, Cesena (IT) e Bydgoszcz (POL), como parceiros da 1a fase, Amarante (POR), XII. Distrito de Budapeste (HU) e Nea Propontida (GRE), como parceiros da 2a fase. Estas parcerias permitem que o projeto BeePathNet abranja a maioria das condições climáticas para a apicultura na UE (atlânticas, continentais, mediterrâneas e alpinas), além de ter em conta as diferenças culturais e sociais entre as cidades, diferenças naturais e culturais entre as cidades essas que começam já a emergir, contribuindo para os desafios do processo de transferência!
Posto isto, temos de destacar que existem quatro componentes principais das boas práticas, que formam um conceito universal de transferência do BeePathNet:
- Estabelecer e apoiar os grupos locais URBACT nas cinco cidades parceiras – transferindo as estratégias de voluntariado, ascendentes e proativas com o objetivo de encontrar sinergias.
- Criar condições favoráveis à apicultura urbana – aumentando a sensibilização junto de públicos-alvo para a importância das abelhas e dos polinizadores selvagens, reduzindo o “fator medo” dos cidadãos e ultrapassando os obstáculos formais e informais da apicultura urbana em todas as cidades parceiras.
- Desenvolver “rotas de apicultura” como novos produtos educativos e turísticos em cada cidade, bem como plataformas para a promoção dos apicultores urbanos e um conjunto diversificado de subprodutos apícolas.
- Assegurar a sustentabilidade a longo prazo da apicultura urbana através da criação de planos de desenvolvimento a médio e longo prazo em cada cidade.
A apicultura urbana, no seu contexto mais lato, dá aos parceiros do BeePathNet e a outras cidades europeias numerosas possibilidades para aprofundar o desenvolvimento do conceito BEE PATH. Isto é comprovado pelo facto de o BEE PATH não ser, de modo algum, um “projeto acabado”, mas antes um “trabalho em curso” – a crescer e a desenvolver-se diariamente.
“É fantástico... até eu sou apanhada desprevenida, por vezes, quando os membros do BEE PATH me informam sobre novas ideias ou novas formas de cooperação entre eles.” Destacou Maruška após um evento BEE PATH. Tendo testemunhado isto, devo dizer que o compromisso e o entusiasmo nos eventos é contagioso, sendo frequente dar comigo a pensar: “Hum, como é que me posso envolver?”
A transmissão deste nível de entusiasmo e paixão é um dos principais desafios do projeto BeePathNet. Durante as nossas visitas às cidades parceiras, eu e a Maruška discutimos diferentes abordagens, mas chegamos sempre à mesma conclusão: “A apicultura – urbana ou rural – não é algo que simplesmente se faça. É preciso gostar de fazer!”
Compreender esta paixão pela apicultura é crucial para o sucesso da transferência das boas práticas do projeto. Mal posso esperar para ver como é que o conceito BEE PATH vai ser transferido e modificado para “caber em cada sapato” nas outras cidades parceiras ou de que modo irá evoluir neste novo ambiente URBACT. Está pronto para ser surpreendido?
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Texto da autoria de Klemen Strmsnik, apresentado a 28 de fevereiro de 2019
Submitted by Ana Resende on